" - Então, já podes contar! - exclamou Rafael.
O jantar tinha sido bom. Mais uma vez, uma pratada cheia de carne para cada um e só depois de repetir é que estavam prontos para voltar a subir.
À mesa todos tinha estado entretidos. A conversa tinha sido animada e sobre todos os temas, como por exemplo os tempos de guerra já passados, que era um tema que normalmente William evitava, o país que tinham deixado e que queriam relembrar, a caça e até mesmo os próprios bosques.
Depois de acabarem, os pais saíram para um dos passeios do costume e, assim que estavam fora do alcance da vista, os irmãos apressaram-se pelo o arco que os levava da sala de jantar ao hall de entrada, subiram a escadaria aos tropeções uns nos outros e a toda a velocidade e correram para o quarto. Quando chegaram, Eva já se encontrava sentada numa das camas abraçada a uma almofada, de sorriso cortado nos lábios e olhos fixos na porta, como se já soubesse que eles aí vinham.
- Está bem - disse enquanto os irmãos se sentavam por perto.
Gabriel foi buscar o cadeirão, visto que Eva tinha ocupado a sua cama por ser a do meio, e os outros dois sentaram-se na cama de Michael. Estavam todos o mais perto possível para não perderam nada do que Eva tinha para contar.
- Podes começar... - disse Gabriel.
Eva estava a demorar um pouco, talvez por estar a tentar lembrar-se de tudo, mas Gabriel estava demasiado curioso, o que fez com que a rapariga soltasse um risinho, e depois começou:
- Os meus pais não são mesmo meus pais. Para dizer a verdade, não vos posso contar tudo sobre eles, porque não os conheço assim há tento tempo. Pelo menos não tanto como há quanto são vivos. Nem sequer sei bem quantos anos é que têm, mas isso agora não interessa.
- Posso fazer um pergunta? - perguntou Rafael antes que Eva pudesse continuar.
- Claro! - respondeu, sorridente.
- Vocês são os três... diferentes... mas não são uma família? Se eles não são teus pais, como é que és uma dessas coisas?
- Eu não sou. Sou mais ou menos o que vocês são.
- O que é que nós somos? - perguntou Michael. - Nós somos pessoas normais.
- Normais já não, mas eu depois explico - respondeu Eva, para poder continuar. - Eu fui encontrada por eles quando tinha três anos."
"Antes de tudo acontecer e termos que nos esconder no salão, os meus pais eram como guardiões. Sempre que havia uma guerra eles lutavam por Portugal e nunca ninguém lhes perguntou como é que faziam o que faziam, nem sequer porquê. Não importava, desde que o povo estivesse a salvo e as batalhas fossem ganhas, mas começou tudo na terceira invasão francesa."
"Nas outras invasões os meus pais nunca se meteram muito, mas a última começou perto e passou mesmo por aqui. Os meus pais foram obrigados a lutar, porque, para além do povo, a casa deles também estava em risco. Sempre gostaram disto aqui, por ser calmo, recatado e, por causa disso, ser um sítio bom para passarem despercebidos, e como todos gostavam deles, pronto...
- Então e o que é que aconteceu para vos obrigarem a esconder-se? - perguntou Michael.
- Aconteci eu - respondeu Eva encolhendo os ombros."
Desta vez trago-vos "Um Pouco de História", para que possam conhecer um bocadinho mais de alguns dos personagens. É certo que não há tanta acção, mas escrever estas partes não deixa de ser interessante :) Mais uma vez, espero que lê-las também o seja!
Obrigado! :)