sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Afinal, O Que És Tu?

"  Eva suspirou um pouco. Estava a preparar-se, ela própria, para a brisa que há tanto esquecera, mas à qual agora escolhia permitir a entrada. A sua única dúvida era o efeito que teria, mas, afastando o medo, aconchegou as mãos no conforto uma da outra com os dedos encruzilhados e as palmas fundidas, cruzou as pernas e encolheu os ombros, como se se preparasse para aguentar uma força que a tentava arremessar contra a parede. Parecia estar a querer resistir à força do seu próprio passado.
  - Nesse dia os franceses chegaram à linha de Torres Vedras, de pois das espingardas e armas serem polidas, carregadas, polidas e afiadas, limpas e prontas a disparar. Deram-se trocas de tiros e o cerco levou semanas a terminar, mas quem estava pior eram eles!
  - E os teus pais tinham-te sempre com eles? Mesmo com essas batalhas todas? - perguntou Michael.
  - Sim - respondeu Eva. - Eu era o que era. Aguentava melhor a fome do que toda a gente, mas quando havia caça também era quem mais comia!
  Disse isto com um ar de satisfação e orgulho que poria qualquer um feliz, e depois continuou.
  - E durante semanas ali ficámos, até que o exército hostil decidiu retirar. No início, achava-se que o plano era afastarem-se apenas, para recuperar, por isso perseguimo-los até atravessarem a fronteira e voltarem para Espanha."
 " Ainda se deram duas batalhas importantes e, na última, quando a vitória era nossa, o meu pai esteve a uma unha negra de perder a vida.
Se ele não se tivesse distraído, tínhamos vivido estes cinquenta e três anos como pessoas normais, mas a culpa não foi dele. Alimentar-se está-lhe no sangue, e, quando acabou com um dos últimos soldados franceses, o sangue absorveu-lhe todo o auto-controle. O meu pai desapareceu, consumido pelo desejo de demónio, e, ao testemunhar a existência desta estranha criatura, de que já se tinha ouvido falar, mas nunca ninguém realmente vira, um outro soldado, contrariamente a todos os outros que o mesmo viram e fugiram, quis trespassar-lhe o coração, como ouvira que devia fazer-se."
  "Eu ficava sempre por perto durante as batalhas, com a minha mãe, e quando percebi o que se passava, todos ficaram a saber que sou o que sou."
  "O soldado congelou no lugar onde tinha erguido a espada. Com um gesto impulsivo, paralisei-o de dor, esmaguei-lhe o corpo e todas as veias e, em poucos segundos, morreu, privado de todo o sangue que
tinha no corpo. A sua cor vacilou entre o normal, o vermelho e o branco esverdeado que a mistura das suas veias esmigalhadas e da sua pele seca lhe dava.
  Disse tudo isto com um prazer escondido nas suas feições, o que era um pouco aterrorizador. Conseguia observar-se nos seus olhos que, aquele homem, Eva tinha gostado de matar. Era uma mulher protectora, disso não havia dúvida."


Mais um excerto sobre Eva, pois, tal como a vocês, a rapariga também me deixa curioso! Mas, simultâneamente infeliz e felizmente, o mistério continua e espera-se mais um excerto que virá depois de todos terem lido um pouco mais sobre Eva.
Comentem, partilhem e tudo isso. Ajuda a divulgar é sempre bem vinda! :)
 

Sem comentários:

Enviar um comentário