domingo, 28 de setembro de 2014

Na Biblioteca


" Quando Rafael, Gabriel e Michael saíram, Muriel e William permaneceram à mesa. Acabaram de comer, fitaram-se um ao outro por um pouco mais de tempo e depois William levantou-se, percorreu o salão até ao outro lado da mesa, beijou a testa a Muriel e retirou-se também. Nesse dia, como por vezes faziam, passariam a tarde separados, e não precisavam de palavras para traduzir aquilo que um olhar e um beijo podiam demonstrar: "Amo-te, respeito-te e vou ter saudades".

  Normalmente, o homem passava horas na vila, pois gostava de falar com todos os habitantes, sentar-se na taberna e rir-se com as novidades. De quando em vez, depois disso, circulava pela vila com o seu cavalo negro, para verificar se estava tudo como devia.
  Contando com tudo isto, e conhecendo o marido como conhecia, Muriel perdia-se no tempo com os seus passeios no jardim, a contemplar vestidos acabados de tecer e que lhe iam sendo costurados pelas criadas ou até pelas mulheres da vila, ou apenas na biblioteca, mergulhada nos livros mais fantásticos que conseguia encontrar, e foi o que fez. William coleccionara livros de todos os tipos e de todos os sítios onde tinham vivido, por isso não lhe faltavam novos títulos.
  Quando William atravessou as portas principais, Muriel manteve-se imóvel, de cabeça encostada às costas do cadeirão e olhar preso no tecto. Observava, simplesmente, as linhas douradas que decoravam a superfície acúpulada  acima de si mesma.
  Pouco depois, quando já todas as aventuras que lia nos livros se lhe tinham infiltrado no pensamento, levantou-se e percorreu toda a casa, voltando a sentar-se de novo apenas com um dos seus livros preferidos entre as mãos e o banco de pedra ao nível dos seus olhos. Gostava de se sentar nos degraus do escadote de madeira, e ali ficar durante horas.
  De vez em quando, ao mudar as páginas, ia alternado as posições, sentando-se no chão, de costas contra à madeira do escadote ou deitando-se até na pedra fria, evitando os tapetes, pois queria refrescar o corpo aquecido pelo calor que o pensar produzia.
  Começou pelo início de um livro que havia lido cerca de dez vezes, anteriormente. Era grosso, mas Muriel tinha gosto em lê-lo, portanto começava-o e terminava-o numa tarde: desde o fim do almoço até ao fim da tarde, quando o sol já se escapulia do céu e os olhos pediam descanso. Assim o dia foi passando, normal, igual a todos os outros, mas, desta vez, Muriel resolveu parar de ler um pouco antes.
  Nesse dia, ao fim da tarde e enquanto os irmãos e Eva se encontravam envoltos nas memórias da rapariga, o sol desceu ao nível da terra, debaixo das nuvens cinzentas. Pintado de um vermelho como sangue, inundou todo o céu e montanha, carregando os contornos das nuvens escuras e das árvores e tornando toda a paisagem numa digna de uma interrupção na leitura da senhora, que, ao aperceber-se disto, se levantou, arrumou o livro no espaço da estante que deixara livre e se dirigiu a uma das janelas altas da biblioteca, de forma a poder observar todo aquele cenário. Assim ficou, com a cara maquilhada com aquele vermelho natural que pouco depois pintava também toda a divisão, e com ela todos os seus livros, fazendo sobressair os de capa viva e camuflando aqueles com lombadas mais escuras. Era um espectáculo bonito que realçava também a beleza da mulher, enfeitado com as linhas douradas de alguns livros, que reflectiam a luz exterior nas estantes a toda a sua volta e as fazia lembrar uma árvore de Natal vista do interior.
  Por breves instantes, Muriel recostou-se nas estantes, fechando os olhos, inalando profundamente aquele que se tornou num dos momentos mais pacíficos que até aí havia vivido.
  -Aah! - murmurou, com satisfação.
  Mas pouco durou, tudo isto.
  Sem que desse conta, o sol tinha sido escondido de novo, deixando para trás a penumbra da recém-chegada noite, acompanhada de todos os seus terrores.
  Encostada à parede, foi "acordada" por um pequeno tremor da casa
  "O que foi isto?" pensou, para si mesma. Mas antes que pudesse desencostar-se, fez-se sentir outro igual.
  Muriel olhou em torno de si mesma com esperança de encontrar algum sinal que lhe garantisse que não tinha sido impressão sua. Sabia que, àquela hora, os únicos criados que estariam a pé seriam os cozinheiros, que estavam na cozinha a acabar de preparar o jantar para quando William e os irmãos chegassem.
  Mais um tremor, este mais forte. Agora, Muriel encontrava-se no centro da biblioteca e a visão começava a falhar-lhe devido à falta de luz, e, por isso, também o equilíbrio a traía.
  Depois, um e outro estouro de seguida, desta vez ali bem perto. Começava a ficar assustada. Não sabia o que se estava a passar, nem porquê, e só desejava ter William ali, consigo, para a poder aconchegar.
  De repente, sem razão alguma aparente, a lareira acendeu-se, iluminando toda a biblioteca com brilhos de luz branca, reflectida nos espelhinhos do banco. A confusão na cabeça da senhora ia aumentando, e, não muito longe dali, William regressava, sacudindo as rédeas, chicoteando as costas do corcel, ordenando-lhe que acelerasse a o passo. Algo não estava bem."

Queridos leitores, posso agora dizer-vos que, depois deste, não publicarei mais nenhum texto relacionado com este livro :) felizmente estou a terminá-lo, e agora não vos poderei acalmar a curiosidade ( ou provocar ainda mais ) até que leiam o livro inteiro :) foi o início de uma viagem que espero que seja longa e feliz e agradeço do meu fundo mais profundo todo o apoio que me foi dado por todos os leitores. Castelos de Ar chegou, com isto, às 4500 visualizações e esperemos que assim continue :) muito obrigado e até breve!

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Como Usar um Punhal

"  Repentinamente, tudo parou. Gabriel também se apercebera de algo mais para além da agitação do irmão, mas agora a presença intrusa tinha passado a um par, por isso o fugitivo resolveu subir a um dos pinheiros bravos que o rodeavam. Talvez nas alturas fosse capaz de distinguir alguma figura. Enquanto isso, Rafael parou de disparar, empunhou um punhal que tinha guardado numa das presilhas das calças e encolheu-se, ficando o mais perto do chão possível para que se tornasse indetectável. Sabia que a ele lhe cabia fazer o mesmo que Gabriel de forma a aumentar o campo de visão e ficar igualmente invisível, mas, se assim o fizesse, o mais provável era que fosse visto do que vice-versa, por isso petrificou.
  O silêncio manteve-se daí em diante e continuou inquebrável quando Eva se deixou cair sobre Rafael, dando a Gabriel um vislumbre do seu cabelo brilhante, que Gabriel mal conseguiu distinguir, pois foi imediatamente atropelado pelo que lhe parecia ter a força de um tronco. Com braços bastante fortes, por sinal! Só se apercebeu que se tratava de Michael, quando este lhe deu a oportunidade de se virar sobre as suas costas no tronco onde antes se acocorara, dando de caras com um olhar e sorriso gozão e uma mão que lhe assaltou a cara, cobrindo-lhe a via oral. estava preso pelo irmão mais velho e nem podia ordenar-lhe que o soltasse.
  Estrebuchou um pouco até que, finalmente, o irmão o soltou, mas sem que antes lhe indicasse que não fizesse barulho. Gabriel não percebeu a causa para tal, mas obedeceu, endireitou-se, curvando-se e envolvendo o seu poiso com as mãos.Só depois de se recompor pôde fazer sentido de tudo o que se estava a passar.
  Lá de cima, lado a lado com Michael, conseguiu observar que Rafael estava a ser caçado: encurralado e confundido como um rato que tenta sobreviver a um gato brincalhão ou até mesmo esfomeado. Não de forma séria e perigosa, mas como um treino planeado por Eva, que se encontrava a poucos metros de Rafael empoleirada num outro pinheiro sem que o rapaz se apercebesse de nada. Afinal era esse o objectivo: ver como reagia.
  E ali estava ele, esparramado no chão, coberto de terra e pedaços de plantas, depois de ter sido espezinhado pela rapariga. Quando foi capaz de se apoiar nos pés, pegou no seu arco e direccionou-o às árvores, procurando uma cor diferente ou algo estranho que acusasse o intruso. Conseguia distinguir cada folha de cada conjunto que os seus olhos sondavam, conseguia distinguir cada copa de cada uma das árvores, que ramalhavam à distância, mas do seu atacante não havia sinal. Não havia ruído ou cheiro que o denunciasse, mas, quando menos o esperava, vindo do nada, sofreu mais um encontrão, desta vez no braço direito, que esticava o fio do arco. Desta vez o ataque fez com que Rafael disparasse a flecha para o infinito e perdesse uma munição. A última que tinha: foi o que concluiu quando passou a mão pelo interior vazio do cilindro que tinha pendente nas costas.
  "Bolas", pensou. Não havia sinal de Gabriel e agora nem se podia defender. A sua prática era com arco, mas só tinha o punhal, que continuava inerte no solo e era melhor do que usar as mãos, por isso fez-se ao chão o mais depressa que pôde e voltou a empunhar a arma, que representava a sua última esperança.
  Manteve-se em posição defensiva, com a faca envolta na sua mão direita e de lâmina voltada para fora, para que pudesse esmurrar e esfaquear. Conforme a necessidade. Continuava sem saber o que havia de esperar e, ainda mal se tinha conseguido acalmar, foi obrigado a rodar todo o seu tronco em cento e oitenta graus e, num piscar de olhos, o punhal estava afundado na anca de Eva, e a rapariga... ela estava deitada de lado no chão, rindo-se dolorosamente."


Um texto um pouco mais narrado, mas ainda assim com o mesmo interesse dos outros :p espero que gostem e que me acompanhem até ao fim deste e talvez de muitos outros. Talvez até de uma vida :)

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Um Céu de Pássaros de Água

"  E um dia deu-se o que, para Michael, foi um pouco inesperado.
  Era de madrugada e o dia acordara tomado de um humor tropical: morno, sem nuvens  espessas nem sol brilhante, e nos bosques a luz que se instalara era de um verde bonito de água estagnada que, filtrada pela folhagem, criava uma luminosidade serena interrompida por pequenos brilhos causados por farrapinhos de pó ou pólen fugido de flores. Eva estava entretida a nomear espécies de pássaros de que se conseguia lembrar e Michael limitava-se a escutar e mostrar os dentes num sorriso brincalhão.
  - Pronto, pronto! - disse o rapaz entre risadas. - Já percebi que as conheces bem!
  - Mas eu posso continuar! - exclamou Eva, trocista. 
  - Ai é?! Então vá!
  Seguiu-se uma pausa muda.
  - ... Não sei mais - confessou, corando um pouco.
  Michael voltou a rir-se, mas nada disse. Em vez disso saltou com os olhos de árvore em árvore, procurando algum habitante das alturas com que pôr Eva à prova. Em vez disso encontrou um bando mirando-lhes as cabeças lá do alto, calados e de olhos vidrados neles. Eram coloridos. O suficiente para Michael saber que não eram dali. Nunca tinha visto nenhum como aqueles, por isso pensou que talvez estivessem de passagem e sabia que bastava um movimento brusco, uma fala mais alta na sua direcção e num bater de asas desapareceriam antes que Eva pudesse pôr-lhes a vista. 
  Contemplou-os por uns momentos enquanto a rapariga continuava distraída com algo que produzia um segredar no vento. Nada que os pudesse assustar. Os seus olhos pequeninos e brilhantes continuavam prisioneiros da imagem curiosa que eram aqueles dois intrusos, por isso Michael esticou o braço devagar, e com a ponta dos dedos tocou no ombro de Eva. Teve que a agarrar logo a seguir, pois, com toda a sua energia, a rapariga preparava-se para dar um salto e perguntar "O que foi?" na sua voz doce e alegre. Mas calou-se com o gesto de Michael. Em vez disso virou-se devagar, ritmada pela calma do rapaz, para observar o que viria de mais bonito durante os seus longos anos de vida.
  Com aquela luz, as cores exibidas pelas aves eram ainda mais brilhantes. Tinham gotas, como geada derretida, que lhes escorriam desde o cocuruto da cabecinha até à ponta de cada pena. Faziam com que parecessem feitos de água colorida, e no entanto não se desfaziam. Nem sequer pestanejavam. 
  Os olhos de Michael pareciam ter-se apaixonado. Estava petrificado olhando as pequenas criaturas, mas foi puxado de volta à consciência ao sentir um toque leve no seu ombro demónicamente frio. Simultaneamente apercebeu-se de um respirar profundo junto das suas costas, e quando olhou por cima do ombro, de maneira a certificar-se do que era, foi barrado por uma cascata dourada composta por fios de ouro que lhe escorriam ondulosos ao longo do braço. 

  Cheiravam bem. Possuíam um odor único a natureza que Michael não conseguia decifrar. Não sabia se eram flores, se eram folhas, se eram frutos ou até mesmo uma mistura. Uma homogeneidade de tudo o que conhecia e apreciava envolta num suspiro suave que se seguiu de um murmurar ao seu ouvido.
  - Estes não conhecia."

Mais uma pequena parte do livro, esta com um gosto um pouco diferente, que promete transmitir mais um pouco de emoção transcrita por mim e que espero que gostem de ler :)

sábado, 30 de agosto de 2014

Futuro de Ti

"  Mais uma noite em que me sinto a rebentar. Desta vez tenho que apertar um pouco a letra, pois só tenho esta metade de folha e, apesar de não saber quem és, ou mesmo de existes, dás-me vontade de escrever. Dás-me vontade de ter-te nos braços e sentir que estás bem, feliz. Que estamos.
  Ás vezes penso em como tudo seria. Imagino um pouco do filme perfeito em que mergulhamos algures num oceano do mundo, de olhos afundados uns nós outros, talvez até fundidos num só. Tento pensar em como soeria uma vida assim, contigo que, por enquanto, és apenas uma parte do meu vaguear pelas possibilidades de uma vida que há quem diga que é especial.
  Se é ou não, não sei, e, mesmo que tentasse, não to poderia dizer, por isso escrevo-te estas cartas. Talvez um dia as leias, talvez ainda no teu canto perdido no mundo, e saibas que estou a caminho de contemplar esse teu sorriso de um rasgado bonito, de te segurar quando cais, ou mesmo quando não estás para cair, só pelo gosto de segurar um futuro como é o que te contém, nos meus braços debilitados.
  Nestas mãos duridas, segurarei as tuas, neste peito chato, apoiarei a tua cabeça em momentos bons, quando os teus lábios deixarem fugir um raiozinho de luz, maus, quando os teus olhos se cerrarem numa noite chuvosa, ou apenas de sonho, quando o fizerem em forma de noite estrelada de sonhos cobertos de "nós", da vida que iremos levar e de tudo o que o mundo promete prometer.
  Até lá, até que te conheça e te adore, sabe apenas que és a minha salvadora, a minha anja (se é que tal palavra pode existir), e que sem ti, este não seria "eu".

  Com um beijo que dure para sempre 
  Francisco."



Uma outra carta que decidiu ser escrita e que se dirige a alguém especial :) espero que gostem e que as continuem a ler! O livro há-de continuar e hei-de publicar mais excertos, por isso tentem não perder o fio à meada! 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Perdida

  Hoje é uma daquelas noites. Uma de inspiração em que o coração me explode e se espalham manchas de tinta nesta folha de papel suja. Esta noite não sei sobre o que quero escrever, nem porquê, mas já são três da manhã e os meus olhos não parecem querer fechar.
  Não sei do que hei-de falar, e, por isso, falarei de alguém.

  Não te conheço, nem sei quem és. Sei apenas que te encontras para lá desta porta, algures no mundo. Não sei quem és e, de ti, sei apenas que estás por aí, perto ou longe e tão perdida quanto eu, por isso gostava que lesses esta carta que te mando:

"  O mundo é um lugar enorme, confuso e agitado, que nos tortura pela vida dentro. Chega a ser assustador. Dá-me medo, pensar que posso nunca te ver, nunca sentir as curvas perfeitas das tuas feições, o doce dos teus lábios ou sequer a brisa de um abraço teu. É um mundo cruel, este que nos deixa perdidos e desesperados, procurando segurança até no mais fraco fogo de te sentir junto ao peito, trémula, numa noite fria.
 Mas sei que estás algures perdida, e, por isso, tenho que sair, vasculhar todos os cantos deste mundo redondo sem saber do meu futuro e querendo esquecer um passado sem ti. É difícil, mas prometo-te que vou continuar sem nunca arrepiar caminho, que vou encontrar coragem na simples imagem de um sorriso que arranco da imaginação, e que um dia te vou olhar nos olhos, beijar-te os lábios, abraçar-te a cintura e, para que nunca te esqueças, prometo que, todas as noites, entre sonhos e realidade, te segredarei ao ouvido o quanto te vou amar.
  Sei que pode demorar, mas, até lá, imagina que a vida é como uma estrada: curta ou comprida, tem sempre um fim, que é onde te encontrarei.

Um até breve e Um beijo,
De quem te vai amar."


Espero que gostem deste pequeno momento, que nada tem a ver com o livro, mas que espero que se leia tão docemente quanto o senti :)

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Noite na Floresta

"  A presa estava ainda a alguma distância e, antes que estabelecessem contacto visual, Rafael tropeçou ruidosamente duas ou três vezes. Eva estava prestes a mandá-lo de volta para casa, na sua tirania implacável, quando avistou o que esperava poder caçar.
  Era uma visão rara, naquela ou em qualquer região, mas lá estava ele: um lobo enorme, de pelagem cinzenta, cheirando o chão. Enquanto o observavam, viram como se movia com músculos fortes e evidentes, uma cabeça gigante e majestosa e olhos e dentes que, quando a luz lunar encontrava uma fresta por entres as folhas e ia ao seu encontro, brilhavam de tão brancos que eram.
  - Então? - segredou Rafael - E agora?
  Imediatamente, Eva cobriu-lhe a boca.
  - Cala-te que nos ouve!
  E, realmente, Michael conseguiu notar como o animal elevou a cabeçorra e virou as orelhas à sua volta, procurando a fonte daquele segredar. Devagar e cuidadosamente, Eva recuou, puxando cada um dos irmãos pelos seus ombros, liderando-os para longe da besta.
  - Lobos é que não! - regrou assim que estavam longe o suficiente e antes que Rafael lhe lançasse mais alguma pergunta.
  - Porquê?
  - São perigosos. Nunca se sabe se são apenas lobos, nem se estão sozinhos - explicou Eva.
  - Mas parecia estar sozinho - afirmou Gabriel. - E, com isto tudo, também estou a ficar com fome.
  - Também eu, mas nunca se sabe quantos outros podia chamar. É raro e estranho um lobo estar só, a não ser que se sinta pronto para partir, e não me pareceu ser essa a situação.
  - E agora?
  - Agora continuamos - informou a rapariga, retomando a passada à sua forma decidida.
  A noite ainda era jovem e haveriam hipóteses para todos experienciarem aquilo que a Eva fazia vibrar de prazer. Nenhum deles sabia como iria correr, nem mesmo Eva, mas a rapariga olhava para os irmãos: um de costas viradas para si, que a seguia caminhando à sua frente, outro ao seu lado, perdido nos seus pensamentos e o último um pouco mais atrás, atrasado pela sua personalidade aluada e pelos seus tropeções constantes, e sentia uma ligação forte com cada um deles. Não era certo, mas talvez isso se devesse ao facto de todos eles serem um pouco como ela e até um pouco dela.
  Michael e Eva eram idênticos: ambos fortes, tanto física como psicologicamente. Gabriel era o mesmo, embora, nas suas acções, ainda deixasse transparecer um pouco mais de desequilíbrio. Ainda assim tinha uma boa alma, e Rafael era a inocência em pessoa. Talvez fosse o ser humano mais desajeitado que Eva tinha conhecido ao longo da sua vida, o que não significava muito, visto que metade dela a tinha passado enterrada e isolada do mundo, mas ainda assim sabia que, quando posto sob pressão, respondia à letra. A sua bochecha esquerda, antes fortemente esmurrada, era a prova e o motivo que lhe moldara tal impressão. Era um bom trio e, por isso, Eva sentia-se feliz. Estava finalmente acompanhada."




Mais um excerto que está lançado. O livro vai-se desenvolvendo mais e mais, cheio de mistérios e aventuras, e agora aproxima-se um dos capítulos mais importantes e excitantes de toda a história. Obrigado pelo apoio que me tem sido oferecido e espero que continuem a seguir a leitura para saberem o que vem a seguir :)

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Afinal, O Que És Tu?

"  Eva suspirou um pouco. Estava a preparar-se, ela própria, para a brisa que há tanto esquecera, mas à qual agora escolhia permitir a entrada. A sua única dúvida era o efeito que teria, mas, afastando o medo, aconchegou as mãos no conforto uma da outra com os dedos encruzilhados e as palmas fundidas, cruzou as pernas e encolheu os ombros, como se se preparasse para aguentar uma força que a tentava arremessar contra a parede. Parecia estar a querer resistir à força do seu próprio passado.
  - Nesse dia os franceses chegaram à linha de Torres Vedras, de pois das espingardas e armas serem polidas, carregadas, polidas e afiadas, limpas e prontas a disparar. Deram-se trocas de tiros e o cerco levou semanas a terminar, mas quem estava pior eram eles!
  - E os teus pais tinham-te sempre com eles? Mesmo com essas batalhas todas? - perguntou Michael.
  - Sim - respondeu Eva. - Eu era o que era. Aguentava melhor a fome do que toda a gente, mas quando havia caça também era quem mais comia!
  Disse isto com um ar de satisfação e orgulho que poria qualquer um feliz, e depois continuou.
  - E durante semanas ali ficámos, até que o exército hostil decidiu retirar. No início, achava-se que o plano era afastarem-se apenas, para recuperar, por isso perseguimo-los até atravessarem a fronteira e voltarem para Espanha."
 " Ainda se deram duas batalhas importantes e, na última, quando a vitória era nossa, o meu pai esteve a uma unha negra de perder a vida.
Se ele não se tivesse distraído, tínhamos vivido estes cinquenta e três anos como pessoas normais, mas a culpa não foi dele. Alimentar-se está-lhe no sangue, e, quando acabou com um dos últimos soldados franceses, o sangue absorveu-lhe todo o auto-controle. O meu pai desapareceu, consumido pelo desejo de demónio, e, ao testemunhar a existência desta estranha criatura, de que já se tinha ouvido falar, mas nunca ninguém realmente vira, um outro soldado, contrariamente a todos os outros que o mesmo viram e fugiram, quis trespassar-lhe o coração, como ouvira que devia fazer-se."
  "Eu ficava sempre por perto durante as batalhas, com a minha mãe, e quando percebi o que se passava, todos ficaram a saber que sou o que sou."
  "O soldado congelou no lugar onde tinha erguido a espada. Com um gesto impulsivo, paralisei-o de dor, esmaguei-lhe o corpo e todas as veias e, em poucos segundos, morreu, privado de todo o sangue que
tinha no corpo. A sua cor vacilou entre o normal, o vermelho e o branco esverdeado que a mistura das suas veias esmigalhadas e da sua pele seca lhe dava.
  Disse tudo isto com um prazer escondido nas suas feições, o que era um pouco aterrorizador. Conseguia observar-se nos seus olhos que, aquele homem, Eva tinha gostado de matar. Era uma mulher protectora, disso não havia dúvida."


Mais um excerto sobre Eva, pois, tal como a vocês, a rapariga também me deixa curioso! Mas, simultâneamente infeliz e felizmente, o mistério continua e espera-se mais um excerto que virá depois de todos terem lido um pouco mais sobre Eva.
Comentem, partilhem e tudo isso. Ajuda a divulgar é sempre bem vinda! :)
 

sábado, 2 de agosto de 2014

Um Pouco de História

"  - Então, já podes contar! - exclamou Rafael.
  O jantar tinha sido bom. Mais uma vez, uma pratada cheia de carne para cada um e só depois de repetir é que estavam prontos para voltar a subir.
  À mesa todos tinha estado entretidos. A conversa tinha sido animada e sobre todos os temas, como por exemplo os tempos de guerra já passados, que era um tema que normalmente William evitava, o país que tinham deixado e que queriam relembrar, a caça e até mesmo os próprios bosques.
  Depois de acabarem, os pais saíram para um dos passeios do costume e, assim que estavam fora do alcance da vista, os irmãos apressaram-se pelo o arco que os levava da sala de jantar ao hall de entrada, subiram a escadaria aos tropeções uns nos outros e a toda a velocidade e correram para o quarto. Quando chegaram, Eva já se encontrava sentada numa das camas abraçada a uma almofada, de sorriso cortado nos lábios e olhos fixos na porta, como se já soubesse que eles aí vinham.
  - Está bem - disse enquanto os irmãos se sentavam por perto.
  Gabriel foi buscar o cadeirão, visto que Eva tinha ocupado a sua cama por ser a do meio, e os outros dois sentaram-se na cama de Michael. Estavam todos o mais perto possível para não perderam nada do que Eva tinha para contar.
  - Podes começar... - disse Gabriel.
  Eva estava a demorar um pouco, talvez por estar a tentar lembrar-se de tudo, mas Gabriel estava demasiado curioso, o que fez com que a rapariga soltasse um risinho, e depois começou:
  - Os meus pais não são mesmo meus pais. Para dizer a verdade, não vos posso contar tudo sobre eles, porque não os conheço assim há tento tempo. Pelo menos não tanto como há quanto são vivos. Nem sequer sei bem quantos anos é que têm, mas isso agora não interessa.
  - Posso fazer um pergunta? - perguntou Rafael antes que Eva pudesse continuar.
  - Claro! - respondeu, sorridente.
  - Vocês são os três... diferentes... mas não são uma família? Se eles não são teus pais, como é que és uma dessas coisas?
  - Eu não sou. Sou mais ou menos o que vocês são.
  - O que é que nós somos? - perguntou Michael. - Nós somos pessoas normais.
  - Normais já não, mas eu depois explico - respondeu Eva, para poder continuar. - Eu fui encontrada por eles quando tinha três anos."
  "Antes de tudo acontecer e termos que nos esconder no salão, os meus pais eram como guardiões. Sempre que havia uma guerra eles lutavam por Portugal e nunca ninguém lhes perguntou como é que faziam o que faziam, nem sequer porquê. Não importava, desde que o povo estivesse a salvo e as batalhas fossem ganhas, mas começou tudo na terceira invasão francesa."
  "Nas outras invasões os meus pais nunca se meteram muito, mas a última começou perto e passou mesmo por aqui. Os meus pais foram obrigados a lutar, porque, para além do povo, a casa deles também estava em risco. Sempre gostaram disto aqui, por ser calmo, recatado e, por causa disso, ser um sítio bom para passarem despercebidos, e como todos gostavam deles, pronto...
  - Então e o que é que aconteceu para vos obrigarem a esconder-se? - perguntou Michael.
  - Aconteci eu - respondeu Eva encolhendo os ombros."


Desta vez trago-vos "Um Pouco de História", para que possam conhecer um bocadinho mais de alguns dos personagens. É certo que não há tanta acção, mas escrever estas partes não deixa de ser interessante :) Mais uma vez, espero que lê-las também o seja!
Obrigado! :)

terça-feira, 22 de julho de 2014

Eva

"  Depois de se separarem de Michael, Gabriel e Rafael correram em direcção às portas. Tinham que chegar ao quarto o mais rápido possível. As camas tinham que ser desfeitas e os lençóis e os cobertores amarrados e lançados pela janela.
  Quando entraram deram de caras com Josie, mas iam tão depressa que a única coisa que a empregada viu foi um par de vultos seguidos de uma brisa leve que lhe sacudiu as pontas do avental e do vestido e a deixou a falar para o ar ao tentar avisá-los que William os queria à mesa. Mas os irmãos não a ouviram. As suas mentes estavam já trancadas no quarto e, segundos depois, também os seus corpos lá se encontravam.
  Depressa desfizeram as três camas, deixando apenas um lençol sobre um dos colchões para que a pudessem deitar. Já sabiam que ia ficar tudo manchado, mas eram bons a inventar desculpas e, se alguém fizesse perguntas, era o que fariam.
  - Já está? - Perguntou Michael lá de baixo, quando Rafael acabava de fortalecer o último nó, dando-lhe outro por cima.
  - Está quase! - gritou por cima do ombro, enquanto passava o rolo duplo de lençóis à volta do pescoço.
  Michael estava a ficar preocupado. A rapariga começava a ficar branca como mármore branco, provavelmente por causa de todo o sangue que perdera. Estava quase a gritar, para a janela, que se despachassem, quando apanhou com uma cobra de cobertores na cabeça.
  - Desculpa! - gritou Rafael.
  Michael não respondeu. Estava agoniado, pois começara a sentir de novo aquele cheiro nojento. Queria chegar ao quarto, pousá-la e tratar dela depressa, para que acordasse e lhes respondesse a todas as perguntas que tinham, por isso puxou o rolo de tecido até à altura do chão, encaixou a cintura da rapariga no seu ombro e agarrou-se o melhor que conseguiu.
  Usando o corrimão de pedra do varandim com apoio, para facilitar, Gabriel e Rafael içaram o irmão e, pouco depois, ajudavam-no a a trepar para o quarto. Embora já todos tivessem dado pelo odor nauseabundo, conseguiram ignorá-lo. Gabriel aliviou o irmão do peso da rapariga, transportando-a pelo quarto até à cama, enquanto Rafael puxava o irmão pelo braço, agora também encharcado com o líquido vermelho vivo. Ainda tinham no quarto um alguidar de ferro cheio de água que tinham usado, nessa manhã, para lavar a cara, e, aproveitando que lá estava, Michael passou o sangue, que lhe manchava o antebraço, por água, até deixar de estar peganhento.
  Depois aproximaram-se da cama onde Gabriel a  tinha deitado.
  - Rafael, desfaz o rolo de lençóis e dá-me um deles, por favor - pediu Michael.
  - Está bem.
  - Gabriel, ajudas aqui? - sugeriu, desapertando o colete, que ainda estava atado à canela da rapariga.
  Com as duas mãos e muito cuidado, Gabriel afastou-lhe a perna do colchão, Rafael entregou a Michael um rectângulo de tecido limpo, dobrado, e este substituiu o colete ensopado pelo lençol, atirando-o depois pela janela, pois tinha percebido que era a fonte daquele cheiro horrível.
  Usando mais um dos lençóis e a água do alguidar, limparam-lhe  os cortes fundos, que ainda jorravam sangue, e voltaram a envolvê-los com cuidado e mais apertados. Teriam chamado o médico da vila e tratado da rapariga, se não fosse ela. Desconheciam o seu nome, não sabiam quem era e as suspeitas que tinham sobre ela não os ajudavam nas suas desconfianças, e agora tinham uma assassina adormecida no seu quarto.
  As suas feições estavam tranquilas, tinha a pele de um branco de morte, mas viam que respirava, por isso, para que não lhes fugisse e desaparecesse de novo, decidiram que seria melhor vigiá-la.
  - Devias ficar tu aqui, Michael - disse Rafael.
  - Estás todo sujo - continuou Gabriel. - Se ficares aqui evitamos perguntas.
  - Não sei. Vão fazer perguntas na mesma.
  - Nós dizemos que não te sentes bem, trazemos-te comida e pronto - declarou Rafael, com um sorriso de satisfação estampado na cara.
  - Está bem. Tentem não demorar, então!
  Tinha fome, mas, embora ainda não o tivesse admitido, estava mesmo mal disposto, por isso, de qualquer maneira, precisava de ficar à janela, de nariz ao ar livre, para se conseguir livrar do cheiro que se lhe instalara nas vias nasais.
  E assim foi. Gabriel e Rafael desceram e Michael pendurou-se na janela, voltando para dentro pouco depois. Estava curioso. Queria saber mais sobre a rapariga, por isso, na esperança de aprender observando, puxou o cadeirão da lareira para perto da cama e sentou-se, fixando, com os seus olhos, a rapariga, o seu vestido e os seus cabelos sujos. Tinha pestanas compridas e negras que contrastavam com os seus fios de cabelo dourados. Tinha um nariz redondo e delicado e queixo e pescoço finos, tal como os seus braços, embora Michael já tivesse testemunhado o quão fortes eram.
  O quarto estava em silêncio. Não passava ninguém no corredor, e foi aí que Michael reparou nas rosas. Pequenas rosas bordadas no vestido branco, igualmente sujas. Quis tocar-lhes, mas, por algum motivo, tinha um pouco de medo. Já tinha a mão estendida no ar na direcção do tronco da rapariga, quando hesitou, deixando-a imóvel mas trémula a meia distância do vestido.
  "E se acorda e me ataca outra vez?" perguntou-se. Pensamento que o fez recuar um pouco, mas era mais curioso do que medroso. Ajeitou-se no cadeirão e aproximou a mão do vestido, de novo. As rosas eram pequeninas e às centenas e, embora estivessem manchadas, sentia-as como se tivessem sido acabadas de lavar. Eram feitas de pequenos rolos de tecido com pétalas em círculo e raminhos esculpidos na malha.
  - Ah...!!
  Sem que tivesse reparado, a rapariga tinha aberto os olhos."


Novo capítulo começado e a aventura continua :) espero que, tal como eu não consigo parar de escrever, não consigam parar de ler!
  

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A Esfera que Flutua "" The Floating Sphere

"  De vez em quando deixavam a mente vaguear um pouco, entreolhando-se e olhando à sua volta. Observavam as nuvens, as ervas altas que libertavam aquele odor forte e todas as lápides que enchiam o quadrado formado pela cerca de ferro preto.
  Por vezes ouviam uma pessoa tossir ou outra a fungar e afundar a cara no trapo velho que servia de lenço.
  Michael não se sentia triste, mas sim nostálgico, tal como os irmãos. Não sabia como nem o porquê de estarem ali, agora, mas não fazia diferença. O que era, era. E então, visto que gostava de observar, procurava distracção em tudo à sua volta. Viu como, mesmo sem luz, tudo brilhava, como que chorando, sentiu o vento nas mãos transpiradas e fixou as árvores que dançavam ao longe, apenas para notar que entre elas estava um brilho mais intenso. Manteve o olhar fixo nele, pois não conseguia decifrar o que era, mas ao fim de poucos minutos desapareceu, por isso Michael voltou a prestar atenção a tudo o que o rodeava. Pessoas tristes e vestidas de preto, que, no fim das orações e dos caixões desaparecerem no escuro da cova, começaram a arrastar os pés de volta à sua vida. William e Muriel seguiram-nos, e os irmãos ficaram um pouco mais.
  - Que estupidez - disse Rafael.
  - O quê?
  - Isto tudo - continuou.- Acho estúpido que os enterrem.
  - Nem todos pensam assim - ripostou Gabriel. - Não tens que ser tão bruto.
  - As pessoas perdem a dignidade toda, assim.
  - Não sejas parvo! - exclamou Michael.
  E virou costas, começando a andar em direcção à saída, seguido pelos irmãos.
  Estava prestes a alcançar o pequeno portão de ferro preto que fechava o quadrado, quando Gabriel o agarrou pelo braço da camisa, que estava ao alcance dos seus dedos pois era apenas sobreposta por um colete de um negro brilhante.
  - Ai! - resmungou. - Que foi?
  - Olha - disse o irmão.
  E apontou para as árvores, ao longe, onde agora se encontrava o estranho brilho branco que Michael tinha observado, momentos antes. Um pequeno circulo claro que flutuava conjuntamente com as folhas verdes ao sabor do vento.
  - O que é? - perguntou Rafael a si mesmo, embora o tivesse feito em voz alta.
  - Não sei - respondeu Michael. - Parece uma bola de fumo.
  - Se fosse uma bola de fumo não ficava no mesmo sítio durante tanto tempo - constatou Gabriel.
  - Eu sei, mas não conheço mais nada que flutue assim.
  Entretanto já se tinham esquecido do pequeno portão, caminhando em direcção ao que ainda tomavam como sendo uma bola de fumo. Por segundos viram-se impedidos de andar, pois no seu caminho, embora esquecida, ainda estava a cerquinha preta de meia altura, mas pouco depois já lhe tinham passado as pernas por cima, e, numa fracção de segundos, passou de obstáculo a apenas mais um elemento da paisagem.
  - Au! - grunhiu Rafael.
  - Que foi?
  - Raspei a perna neste bico estúpido - respondeu, ao mesmo tempo que esbofeteava a ponta da cerca, como se quisesse libertar aquela raiva momentânea.
  Mas era algo de pouca importância, por isso, em pouco tempo, aquela dor tinha sido substituída por mais um pouco de curiosidade e os irmãos continuaram a dirigir-se ao círculo, que agora flutuava no meio dos três troncos encarquilhados de uma árvore velha, um pouco mais à esquerda do que antes, parecendo ter sido arrastada pelo vento que começava a levantar-se mais forte.
  - Não é fumo - comentou Gabriel, em segredo, com Michael.
  Parecia não querer que aquilo o ouvisse.
  - Pois não - respondeu Michael. - É muito opaco.
  E, de facto, não conseguiam ver através nem à volta do que se tinham apercebido, então, que era uma esfera e não um círculo, pois emitia um brilho forte, branco, que contrastava com o escuro do bosque e daquele céu nublado, como se fosse um pequeno sol que pairava ali, ao nível dos seus olhos.
  Não se moveu quando decidiram aproximar-se mais, nem quando chegaram perto dos três troncos enrugados e a fitaram, sem falar, durante cerca de dez minutos. Parecia feita de vidro branco, maciço, pesado e baço, e tais características funcionaram como uma provocação à curiosidade táctil de Michael, que, passado tanto tempo, ganhou coragem e estendeu a mão. A luz que emanava do objecto era forte, mas aos irmãos tal não fazia diferença.
  - Vais tocar-lhe? - perguntou Rafael num tom de incredulidade.
  - O que é que te parece?!
  E susteve a mão no ar.
  - Nem sabes o que é!
  - E não vou descobrir se ficar especado a olhar para ela - ripostou.
  E voltou, de novo, o olhar na direcção da esfera .
  Sentia um pouco de medo, mas a curiosidade era maior e aumentou ao aperceber-se de que a esfera branca era mesmo feita de fumo. Era fria, mas para além disso, não a sentia. Era como se nem estivesse ali, e, apesar disso, embora a sua mão estivesse mesmo ali, dentro da esfera já não a via.
  - É fria - constatou.
  - E afi... - começou Rafael.
  A sua frase foi interrompida quando, de repente, a esfera, que outrora estivera imóvel, estremeceu."



Mais um excerto que leva a mais um pouco de acção. Não tenho publicado tanto ultimamente, mas continuo a escrever e espero continuar a ter o mesmo ou mais apoio de quem lê e aprecia :)

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" Once in a while, they'd let their minds wonder a little bit just by looking at each other and by looking around. They'd observe the clouds, look at the tall grass that had that distinctive and strong smell and all the tombstones that filled the square made by the black iron fence.
  Sometimes they'd hear someone coughing or someone else sniffing and sticking their face in the old rag that they used as a tissue.
  Michael wasn't feeling sad, but he was nostalgic, just like his brothers. He didn't know why or how they had gotten there, but it didn't make a difference. Whatever was, it just was. And so, because he liked observing, he started searching for a distraction in everything around him. Suddenly he could see how, even without any sunlight, everything was shinning  as if everything was crying. He could feel the wind blowing by his sweaty hands and, far away where the trees seemed to dance around in the wind, he could notice a spot that was glittering more intensely . He kept his eyes on it for a little while because he couldn't seem to make out whatever that was, but it vanished a bit after, so Michael went back to paying attention to everything surrounding him. Sad people dressed in black, that, after all the prayers and after the coffins went under the darkness of the pit, started dragging their feet back to their own lives. William and Muriel followed them while the brothers stayed for a little longer.
  - This is stupid - Rafael said.
  - What is?
  - All of this - he kept going. - I think it's stupid that they bury them.
  - Not everyone thinks like that - Gabriel riposted. - You don't have to be so rude.
  - People lose all their dignity like this.
  - Don't be an idiot! - Michael exclaimed.
  And then he turned his back on them and started walking back to the exit, followed by his brothers.
  He was about to reach the little, black iron gate that shut the square, when Gabriel grabbed him by the arm of his shirt that was on the reach of his fingers, because it was only covered by a shinny black vest.
  - Hey! - Michael grumbled - What?
  - Look - Gabriel said.
  He was pointing at the trees, far away, where now they could see the odd, white glitter that Michael had seen before. A small, light colored circle that was floating in the wind along with the green leaves.
  - What is it? - Rafael asked to himself, even tho he did it loudly.
  - I don't know - Michael answered. - It looks like a smoke ball.
  - If it was a smoke ball, it wouldn't stay in the same place like that - Gabriel said.
  - I know, but i can't think of anything else that can hover like that.
  Meanwhile, they had already forgotten the little gate and were walking towards what they still thought to be a smoke ball. For a second they were stopped from walking because of the little fence that, even having been forgotten, was still in their way. A little while after they had already gotten their legs over and it and it had now gone from being an obstacle to being just a part of the landscape.
  - Au! - Rafael grunted.
  - What is it?
  - I scratched my leg on this stupid fence! - he answered while he slapped it as if he was looking for a way to let that momentary anger out.
  But that wasn't important, so, in a phew seconds, that pain had been replaced by a little more curiosity and the brothers kept heading towards the circle that was now hovering in the middle of three wizened logs that belonged to one of the trees a little bit more on the left than before, making it look like it had been dragged by the wind that was starting to grow stronger.
  - It's not smoke - Gabriel whispered to Michael.
  He seemed not to want that thing to hear him.
  - It's not - Michael answered. - You can't even see through it.
  And, as a matter of fact, they couldn't see either through or around what they had realized to actually be a sphere and not just a circle, for it had this strong, white, bright light all around it that made it contrast with both the dark of the forest and the cloudy sky, like it was a little sun floating in front of their eyes.
  It didn't move when they came closer or when they came near the three wrinkly logs and looked at it for about ten minutes without saying a word. It looked like it was made of white, solid, heavy, dull glass and such features provoked Michael into touching it. After gathering his courage, he held out his hand in its direction.
  The light that was coming out of it, was blinding strong, but to the brothers, that didn't make a difference.
  - Are you going to touch it? - Rafael asked.
  - What does it look like?
  - You don't even know what it is!
  - And i'm not going to find out what it is by just standing here.
  After saying this, he looked back at the sphere.
  He felt a bit afraid, but his curiosity was stronger and became even stronger when he realized that the white sphere was really made of smoke. It was cold, but, apart from that, he couldn't even feel it. It was like it wasn't even there, and yet, even though his hand was right there, inside it he couldn't see it anymore.
  - It is cold - Michael said.
  - And s... - Rafael started.
  His sentence was interrupted when, suddenly, the sphere that hadn't moved until now, trembled."


One more excerpt that has a little more action. I haven't been posting that much lately, but I didn't stop writing and i hope i have the same or more support now from those who actually read and appreciate my work :)

terça-feira, 20 de maio de 2014

Estranha Assassina """" Assassin

"  Enquanto subia os degraus, três a três, Gabriel saiu para a rua, onde estava Rafael, e trepou para as costas do cavalo. Sabia que não valia a pena seguir Michael e preferia estar preparado para o que quer que acontecesse a seguir.
  Com um estrondo, Michael abriu a porta do quarto ao cimo das escadas e perdeu o ar. Deparou-se com o que provocaria náuseas a qualquer um, principalmente a si, mas estava tão determinado em descobrir o que se passava que tinha posto de parte todos os sentidos. Todos menos a visão, e agora observava  o cenário mais horrível do dia.
  Havia apenas uma cama grande e uma de metro e meio de comprimento em que só cabia uma pessoa. Os colchões eram de palha e os cobertores eram grossos e de lã. Estavam embebidos no sangue que se lhes entranhara, que encharcara o chão e que começara a pingar para o andar inferior. Na cama pequena estava quem deveria ter sido o filho da senhora. Tinha um pijama branco e roto e a sua cabeça, na qual Michael conseguia distinguir uns olhos azuis, aterrorizados, estava meio separada do corpo. Na outra cama estava uma figura, também ela branca, que se contorcia sobre uma segunda, e que estava ensopada no sangue das suas presas, que a cobria toda a superfície que Michael conseguia observar.
  O que quer que fosse  não parecia ter dado por nada quando Michael entrou. Estava demasiado empenhado na tarefa de drenar o homem, e só parou depois do rapaz ter verificado que o som que ouvira era o do sangue a abandonar o corpo do homem e o odor era o de morte.
  Passaram-se alguns segundos até que parasse e se levantasse e endireitasse em cima da cama. Michael ouviu soluçar. Apercebeu-se de que tinha cabelo e era comprido e loiro, embora estivesse pintado no vermelho de todo o sangue com que acabara de se lambuzar. Espreguiçou-se, enfrentando ainda a parede. Estava por cima do corpo sem vida do senhor e balançou-se um bocadinho, como que dançando, até que parou.
  Michael susteve a respiração. Esperava que o que quer que fosse não se virasse, não o visse e o atacasse ou simplesmente desaparecesse. Mas ela virou-se. Era só uma mulher. Uma rapariga com a boca contornada em vermelho vivo e com um olhar tão admirado como o de Michael. Tinha a pele branca, como o vestido que usava, e, por poucos segundos, limitou-se a fitar o rapaz parada, de costas torcidas e de mãos abertas, como que enojada com o líquido que lhe pingava do queixo e das pontas dos dedos.
  De repente largou a correr. Saltou da cama para a janela e da janela para a rua.
  - Eh! Espera!! Gabriel!!! - chamou Michael, esperando que os irmãos o ouvissem e a agarrassem lá fora.
  Imediatamente a seguiu.
  A rapariga saltava de telhado em telhado, correndo à velocidade de um cavalo selvagem, sem qualquer dificuldade, e Michael, sem se aperceber, fazia o mesmo. Gabriel e Rafael tinham ouvido os gritos e, nas ruas abaixo dos telhados das casas por onde a rapariga e o irmão saltavam, seguiam, a cavalo, a toda a velocidade. Às vezes, com a distracção de ter que olhar para cima enquanto conduziam os cavalos, Gabriel e Rafael quase se estatelavam contra as paredes de madeira das casas, mas desviavam-se sempre a tempo e a perseguição continuava.
  Em cima dos telhados, Michael tinha o olhar fixo no vestido ,que ganhara forma de balão com a velocidade, e nos cabelos loiros, sujos e chicoteantes, aos quais se chegava cada vez mais. Estava descalça, mas não parecia magoar-se nem sequer importar-se com as farpas que a madeira dos telhados soltava quando passava, e ,cada vez que Michael a começava a alcançar e esticava a mão para a agarrar pelo vestido, ela descrevia uma curva de noventa graus que quase o fazia cair do topo das casas e o deixava bastante para trás.
  Foi quando estavam perto do fim da vila, nas últimas casas antes da floresta, que Michael a conseguiu finalmente alcançar. Gabriel e Rafael ainda os seguiam de perto pelas ruas e ruelas da vila, embora os cavalos já estivessem esgotados, e, quando faltavam quatro telhados para alcançar a floresta, a rapariga saltou, erguendo-se alto no ar, dirigindo-se a um dos pinheiros mais altos. Michael fez o mesmo, mas teve mais força e saltou mais, interceptando-a a meio do ar e despenhando-se no chão sobre a rapariga que devia ser a mais rápida, resistente e maluca do mundo. Pelo menos era o que Rafael achava naquele momento, enquanto parava o cavalo ao lado do de Gabriel e o tentava desmontar o mais depressa que conseguia.
  Michael estava por cima da rapariga, no chão, de joelhos afundados na terra, de forma a prender-lhe o tronco à lama, e de mãos envoltas nos pulsos da rapariga, aprisionando-os também.
  O vestido que ela usava era agora apenas um pedaço de tecido, feio, pintado de vermelho e castanho sujos: um trapo. Tinha o cabelo molhado e enlameado e os pés enterrados na lama do início dos bosques, com os joelhos dobrados atrás das costas de Michael e a cabeça pressionada contra o tronco do pinheiro. Estava presa e, aparentemente, indefesa, mas não parecia assustada. Em vez disso fixava os seus olhos dourados nos de Michael, intensos e firmes, como que raivosa por ter sido apanhada. Não dizia uma palavra e não mexia um músculo.
  O rapaz observou-a durante uma fracção de segundo. Era bonita: era a mulher mais bonita que já tinha visto, e no entanto, em vez de frágil e assustada, sentia-a firme e agressiva.
  - Quem és tu? - perguntou Michael, apertando-lhe mais os pulsos.
  Ela cerrou os punhos, mas não respondeu.
  Tinha os olhares dos três irmãos fitos em si, curiosos, mas não parecia querer tirar o seu da face de Michael.
  - Quem és tu?? - insistiu.
  E a rapariga, de olhar frio e fixo no de Michael, insistiu também no seu silêncio.
  Tinha fogo da cor de ouro nos olhos e manteve-se quieta por pouco tempo, até que mexeu as pernas e os pés. Depois começou a contorcer-se mais e mais depressa, fazendo força com todos os membros e em todas as direcções.
  - Está quieta! - ordenou Michael.
  De repente sentiu uma pancada no meio das pernas.
  - Ai! - gritou.
  De alguma forma tinha conseguido soltar o joelho e dar-lhe uma joelhada bastante dolorosa.
  Michael não consegui evitar soltá-la e contorcer-se, os irmãos estavam sem reacção e, em poucos segundos, tinham acabado de deixar fugir a desconhecida que tinha acabado de matar duas pessoas, e que podia ser a assassina de Noah. Mas, de alguma forma, e embora estivesse encolhido no chão, de roupa, cara e cabelos cobertos de lama e gemendo de dores, Michael não iria conseguir deixar de a lembrar como sendo a mulher mais bonita que já tinha visto."


Mais um pedacinho de história que adorei escrever :P espero que gostem tanto como eu, que comentem e que partilhem com toda a gente de que se lembrarem!

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"  While he climbed the stairs, three by three, Gabriel went outside, where Rafael was, and climbed to the back of his horse. He knew that following Michael wasn't going to do any good and he's rather be ready for whatever happened next.
  Loudly, Michael opened the upstairs room's door and when he saw it he wasn't able to breath anymore. He saw what would make anyone want to puke, specially him, but he wanted so much to find out what was happening that he had shut down every sense. Every one except his vision, and he could now observe the most horrifying scenery he had seen that day.
  There was only one big bed and a one meter and a half long one where you could only fit one person. The mattresses were made of straw and the blankets were made of wool. They were all wet with the blood that had entrenched itself on them, soaked the floor and that had started to trickle into the floor below. The one that should have been the woman's son was the one lying on the little bed. He was wearing a white, shabby pajamas and his head, in which Michael noticed a pair of terrified blue eyes, was almost separated from his body. In the big bed he could see an also white form, twitching itself on a second one, soaked on the blood of its preys, which covered everything Michael could see.
  Whatever it was, it didn't seem to have noticed him when he walked in. It must have been too focused on the task of draining the man of his own blood and it only stopped after the boy had made sure that the noise he heard was coming from the blood leaving the man's body and the smell he could feel was the smell of death.
  A few seconds went by until it stopped, raised itself and straightened its back, standing on the bed. Michael heard it sob. He could finally see that its hair was blonde and long, although it was painted red with the blood it had just besmirched itself with. While still facing the wall, it stretched itself. It was still on the man's lifeless body and it shook itself a little bit, just as if it was dancing. Then it stopped.
  Michael stopped breathing. He was hoping it wouldn't turn around, see him and attack him simply flee. But she turned around. It was just a women. A girl with her mouth and chin painted in bright red and her eyes showing as much surprise and Michael's. Her skin was white like the dress she was wearing and, for a few seconds, she just kept still and stared into the boy's eyes with her back twisted and her hands open as if she was disgusted with the liquid that was dropping from her chin and the tip of her fingers.
  Suddenly she ran. She jumped from the bed to the window and from the window to the street.
  - Hey! Wait!! Gabriel!!! - Michael shouted, hoping that his brothers would hear him and catch her outside.
  He immediately started chasing her.
  The girl jumped from the roof of a house to the roof of the other, running effortless at the speed of a wild horse, and Michael was doing the same without even noticing it. Gabriel and Rafael had heard the shouting and were now chasing after them down in the streets at full speed with their horses. Sometimes, because they had to look up while directing the horses, the two brothers would almost go against the wood walls, but they would always dodge them at the last second and the chase would go on.
  On the roofs, Michael had his eyes on the dress, that was now shaped like a balloon because of the speed, and on her blonde, stained, lashing hair which he could almost touch. She wasn't wearing any shoes but she didn't seem to mind it or even hurt herself with the splinters of wood coming from the roofs at her passage and, every time Michael came close to grabbing her dress, she would make a ninety degree turn, almost making him fall off the roofs and delaying him a bit more.
  It was when they were in the town's edge, in the last houses before the forest, that Michael could finally reach her. Although the horses were tired, Gabriel and Rafael were still nearby, following through streets and alleys, and the girl jumped when there were only four roofs left before the woods, raising herself high in the air, heading towards one of the tallest pines. Michael did the same but was stronger in his jump and was able to catch her in mid air, ending up falling on the floor over the girl that, according to Rafael's thoughts, who was climbing down his horse as fast as he could, should be the fastest, toughest, craziest girl in the world.
  Michael was on the floor, on the girl, his knees pressing her body against the mud and his hands around her wrists, imprisoning them too. The dress she was wearing was now but a piece of ugly, dirty red and brown tissue: nothing but a rag. Her hair was wet and muddy and her feet were buried in the mud from the beginning of the woods, with her knees bent behind Michael's back and her head pressed against the pine's trunk. She was stuck and apparently helpless, but she didn't seem to be scared at all. Instead, she kept her golden and intense eyes on Michael's, as if she was angry for having been caught. She wouldn't say a word or even move.
  The boy looked at her for less more than a second. She was beautiful: the most beautiful women he had ever seen, and yet, instead of fragile and scared, he could feel her strong and aggressive.
  - Who are you? - Michael asked, squeezing her wrists even more.
  She closed her fists and kept quiet.
  The three brothers were staring at her, curious, but she didn't seem to want to take her eyes off Michael's face.
  - Who are you?? - he insisted.
  And the girl answered by staying quiet and keeping her cold look on Michael's.
  She had golden fire in her eyes and, for a bit, she didn't move, until she stretched her legs and feet. Then she started twitching, pulling and pushing her hands and feet, arms and legs in all the directions and as strong as she could.
  - Stop!! - Michael commanded.
  Suddenly he felt a strong blow between his legs.
  - Ah! - he yelled.
  In some way she had been able to free her knee and strike him in a very painful way, and, in a few seconds, they had let the murderer of two people ,and possibly Noah's, escape. But somehow, although he was curling on the floor, with his clothes, his hair and his face covered in mud and moaning in pain, Michael would never be able to forget the beauty of the most beautiful women he had even seen."


And here is one more piece (that I enjoyed so much writing) of the book :P I hope you like it as much as i did, and of course you are welcome to comment on it and share it with anyone and everyone you remember!

domingo, 20 de abril de 2014

A Queda


"Dia sim, dia não, eram visitados pelo médico da vila, que vinha examiná-los de modo a evitar infecções ou qualquer outro desastre que pudesse surgir. Dia sim, dia não, ele vinha. Examinava o ombro de Michael, que se encontrava quase repleto de carne e pele e que melhorava a olhos vistos, observava a mão de Rafael, que já estava curada, mas que insistia em envolver em ligaduras, e por último desembrulha a perna de Gabriel e, de olhos arregalados, exclamava: "Estes miúdos de hoje em dia...!"
  - Já posso andar, senhor? - perguntou Gabriel, depois do médico lhe cobrir com ligaduras, de novo, a perna.
  - Não - respondeu. - A tua perna parece estar bem, mas feridas como estas não se curam assim. Deve haver mais alguma coisa que eu não consigo ver.
  A dor já não os apoquentava, mas mesmo assim o médico insistia em embrulhá-los naquelas ligaduras parvas, e agora começavam a pensar que ele não fazia ideia do que estava a fazer.
  Sabiam que se tinham curado depressa. Feridas daquelas demorariam, com certeza, mais do que seis meses a curar-se e eles tinham ficado bons em duas semanas, mas o homem já começara a ganhar o nome de "imbecil" devido ao tratamento que lhes dava.
  Não podiam sair do quarto, mas durante o dia, quando sabiam que ninguém vinha, aproveitavam para se levantar, esticar as pernas, lutar um pouco e fazer tudo o que seria saudável e normal para rapazes com a idade deles: saltavam da cama de Michael para a de Gabriel, corriam durante três ou quatro horas e, de vez em quando, gostavam de se pendurar na parte de fora das janelas por uma ou duas horas. Comiam apenas ao pequeno-almoço e ao jantar, mas, com o decorrer do tempo, isso era algo que os incomodava cada vez menos.
  Embora fosse Verão, os dias continuavam farruscos, e numa tarde, enquanto Gabriel e Rafael se esmurravam, Michael pendia por um braço do lado de fora da janela. Conseguia sentir a rugosidade das pedras frias da mansão, e ao mesmo tempo que reparava num ratinho que cheirinhava a terra, Muriel entrava no quarto.
  Os três irmãos tinham concordado que os pais não podiam saber o que faziam durante o dia, por isso, quando Michael ouviu a voz da mãe, que trazia a notícia da parte do médico, que já podiam mexer-se à vontade e sair do quarto, e que perguntou onde ele se encontrava, o seu instinto ditou-lhe: "Larga!". E largou.
  Foi uma queda de dois segundos, durante os quais o vento soprou mais forte, os seus olhos se fecharam e aterrou andar e meio mais abaixo, sobre algo que provocou um estrondo seco de tábuas a partir.
  Muriel, Gabriel e Rafael correram para a janela. Nenhum deles sabia o que tinha acontecido e, quando se debruçaram sobre o parapeito de pedra, puderam ver.
  Michael encontrava-se dentro de um buraco quadrado com cerca de um metro de profundidade e pouco mais do que a sua largura. Estava encolhido e de olhos fechados e no seu pensamento ainda ecoava a palavra "morri".
  - Michael! - exclamou Muriel.
  O rapaz abriu os olhos.
  - Estás bem? - perguntou Rafael.
  - Estou - respondeu olhando para cima.
  Levantou-se, esticou as pernas, verificou se não tinha nada partido e, para seu espanto e alívio, percebeu que estava tudo no sítio.
  - Está tudo bem! - afirmou, olhando de novo para os irmãos e para a mãe, sorrindo.
  Muriel estava estupefacta, de boca tapada com a mão, e Rafael e Gabriel  estavam calados. Todos tinham um olhar aterrorizado e nenhum dizia uma palavra.
  - O que foi? - perguntou o rapaz.
  Começava a ficar assustado, e com razão.
  - Michael... - disse Gabriel, apontando.
  Ao início ficou baralhado, pois o irmão acabara de apontar para si, mas foi então que resolveu olhar para o chão que pisava.
  - Aah! Merda! - gritou.
  Num segundo pôs-se fora do buraco, sacudiu-se , e lá estava ele. Estava contorcido, partido, rasgado e sujo, com expressão de horror."

 E pronto, uma noite mal dormida por causa da escrita :P espero que gostem e peço desculpa pela demora.
 

domingo, 30 de março de 2014

Novos Acontecimentos

  Foi contando tudo e observando a ansiedade do pai, até que Peter entrou no quarto. Trazia um ar cansado, meio transpirado, e carregava uma certa aflição nos olhos.
  Abriu a porta de rompante e travou um pouco, ao ver que os irmãos já tinham acordado. Sabia que tinham dormido quatro dias seguidos, mas tentou esconder um pouco a admiração.
  - Bom dia, rapazes - disse, esforçando um sorriso simpático.
  Em seguida, apróximou-se de William e segredou-lhe algo ao ouvido, endireitando-se e saindo, depois, sem mais uma palavra. O pai levantou-se e seguiu-o a passo rápido.
  - Viste como o Sr. Peter estava? - perguntou Rafael, dirigindo-se a Gabriel.
  - Achas? Daqui não vejo nada!
  Na outra cama, Michael moveu-se um pouco, gemeu, mas continuou a dormir.
  - Parecia preocupado - continuou Rafael. - Espera.
  Levantou-se e andou devagar, tentando manter o braço no sítio, até à janela, onde observou um conjunto de dez criados, rodeados por habitantes da Vila, transportando algo coberto por um tecido branco manchado.
  - Aconteceu alguma coisa - disse.
  - O que foi? - perguntou Gabriel, do outro lado do quarto.
  - Estavam a trazer alguma coisa para dentro, mas não consegui perceber o que era.
  Manteve os olhos na entrada da casa, e, segundos depois, afastou-se da janela. Tinha agora uma expressão decidida, e, a passo rápido, atravessou o quarto e sentou-se na cama, verificando se as ligaduras do braço estavam bem presas. Calçou os sapatos, vestiu uma camisola de manga comprida e voltou a levantar-se.
  - Onde é que vais? - perguntou Gabriel.
  - Vou ver o que se passa.
  - Está bem. Conta-me tudo, depois.
  Rafael acenou com a cabeça, enquanto se dirigia para a porta, e saíu para o corredor, o mais rápido e silenciosamente que conseguiu.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Simples Felicidade

  A vida é feita de coisas simples. Coisas que nos fazem felizes ou tristes, e que em certos momentos podem parecer complicadas. Mas quando se resolvem, não podiam ser mais fáceis de explicar.
  Hoje escrevo um texto um pouco diferente. Não para só para um amigo, mas também por causa de um amigo, e para uma rapariga que, embora não conheça, passei a considerar minha amiga também.
  Tem sido um pouco difícil resolver-me com as palavras, por isso espero que compreendam todos os "tus" e formas verbais na segunda pessoa do singular, pois servem para que fique um pouco mais à vontade.
  Conheço-te há bastante tempo. Sempre foste uma amigo que me ouviu e a quem ouvi, e posso dizer agora que te conheço bastante bem. Bem o suficiente para vos dirigir este texto.
  Hoje estive metade do dia à procura de temas e imagens que pudesse pôr no blog, o que me deixou sem tempo para escrever, nem para pensar em nada para além de "Porra para isto!". Mas é sempre bom saber que, nestes momentos, há coisas que nos trazem de volta para onde pertencemos, e é bom poder dizer-vos agora que hoje voltei com a vossa ajuda, e de uma fotografia.
  Na fotografia estás tu: um rapaz de cabelos pretos, sorriso posto e olhos brilhantes. E tu: uma rapariga bonita, de cabelos vermelhos, sorriso rasgado e olhos tão brilhantes como os dele. Algo simples, que no meio do aborrecimento me trouxe de volta um pequeno sorriso difícil de controlar, montes de pensamentos, e me trouxe a vontade de escrever de uma maneira um pouco diferente.
  O texto não está enorme, tão bom quanto gostava que estivesse, para que percebessem que estou feliz por vocês, mas espero que dê a entender que a felicidade se constrói a partir de algo que parece complicado, mas que no fim não podia ser mais simples do que uma fotografia com dois sorrisos que pertencem um ao outro.

Felicidades Helder :)
  

segunda-feira, 17 de março de 2014

A Fuga

  "Estavam agora numa pequena sala quadrada e, com a luz que se esguelhava pelos vários buraquinhos na porta e no telhado, conseguiam ver que o chão da salinha estava coberto por pequenas ervas macias, sobre as quais puderam pousar Gabriel.
  Juntos tentaram abrir a porta, mas esta parecia estar trancada, por isso tentaram deitá-la abaixo, utilizando algumas pedras, que estavam amontoadas a um canto da salinha quadrada. Mas as suas tentativas foram vãs, e a exaustão começava a tomar-lhes conta do físico, por isso deixaram-se cair perto do irmão.
  A perna de Gabriel jorrava sangue, e Michael sabia que não podiam demorar muito mais. O desespero começava a invadir-lhe o pensamento.
  - Aau! - gemeu Rafael ao sentar-se.
  - O que foi?
  Rafael levantou-se e tacteou as ervas.
  A sua expressão alegrou-se um pouco quando tirou, do meio das ervinhas, um varão de ferro.
  - Podemos usar isso! - exclamou Michael.
  - Como alavanca.
  Michael voltou a levantar-se e encaixaram o varão num dos lados da porta de madeira.
  Finalmente um pedaço cedeu, e depois outro e outro, formando um buraco suficientemente grande para passarem.
  Primeiro levantaram Gabriel. Apoiando-o novamente nos seus ombros, levaram-no até à porta. Rafael saíu primeiro, depois passaram Gabriel, e Michael saíu em terceiro.
  Era de manhã, e a julgar pelo ar que corria, frio e limpo, levado por uma brisa leve e delicada, era ainda muito cedo, e quando conseguiram esgueirar-se pelo buraco que haviam feito na porta, aperceberam-se de onde estavam.
  - Rafael, - chamou Michael - é a casinha. É a casinha dos bosques.
  Para além do buraco que tinham aberto, a casinha continuava intacta, e estava agora cercada por centenas de rosas brancas, como as que tinham encontrado no salão subterrâneo.
  Agora que sabiam onde estavam, sabiam para onde tinham que ir, por isso, carregando Gabriel, procuraram a estrada para a mansão. Quando a encontraram, tropeçaram e cambalearam por ela fora, dirigindo-se para casa.
  - Mais rápido - disse Michael.
  - Estou a tentar - respondeu Rafael.
  - Não te procupes, o pai e a mãe hão-de saber o que fazer."

Mais um pouco partilhado :) espero que gostem, que comentem tudo isso. Este  causou-me dores nos dedos, de tanto escrever :P

quinta-feira, 13 de março de 2014

O Túnel

 " - Outra vez aquele sonho parvo - respondeu enquanto esfregava o ombro. - Parece sempre tão real.
  Cerrou os punhos, de raiva.
  - Não precisas de ficar assim, já passou - acalmou-o Gabriel.
  Sabia o quanto tudo aquilo era difícil para o irmão, e compreendia que, para Michael, acordar quase todas as noites às duas da manhã, era uma adição um pouco irritante, aos pesadelos.
  Destapou-se, andou até à cama do irmão e sentou-se aos seus pés. Rafael fez o mesmo, já que estava bem acordado.
  - Nunca nos contaste o que acontece ao certo, nesse sonho - disse Gabriel um pouco a medo, pois não se sentia bem em fazer o irmão falar daquilo.
  Mas pensou que talvez fizesse bem a Michael.
  O rapaz suspirou, esfregou a cara com as mãos e fitou os dois irmãos. Largou outro suspiro.
  - O sonho é sempre o mesmo - começou. - Sonho que estou num corredor, mas não é bem um corredor. Um túnel. Não vejo nada à minha volta, porque está tudo escuro. Tenho uma lanterna na mão, mas não a consigo acender.
  "Ao fundo do corredor, muito ao longe, oiço estrondos, como se estivesse alguém a atirar pedras enormes contra a parede. Como não vejo nada e, para além de saber que é um túnel, não sei onde estou, começo a andar em direcção aos sons.
  Fechou os olhos para tentar lembrar-se melhor de tudo. Esticou os braços para os lados e abriu as mãos, como se tocasse nas paredes do túnel, e voltou a abrir os olhos.
  - E depois? - perguntou Rafael, que estava agora deitado de barriga para baixo, em frente ao irmão.
  - Para não caír, tenho sempre as mãos nas paredes - continuou. - As paredes estão muito húmidas e até consigo sentir as gotas de água a escorrer na pedra.
  " Continuo a andar devagar, mas parece que já estou a andar há horas e os barulhos continuam longe, por isso começo a ficar assustado. Paro e tento acalmar-me. De repente os barulhos param, como se soubessem que eu estou ali. Não oiço nada para além da minha respiração, por isso sustenho-a.
  Pousou a mão no peito, para não quebrar o pensamento, tentando reproduzir as sensações do pesadelo.
  - Depois a respiração volta, mas não é a minha - continuou. - Fico cada vez mais assustado e...
  - Shh! - interrompeu Gabriel.
  - O que foi?
  - Shhh! - insistiu.
  E calaram-se os três, imóveis, em cima da cama.
  Ao fundo, muito ao fundo, ouvia-se um barulho pesado e profundo. Um "baque" de pedra contra pedra, distante na mansão."

Está lançado um novo excerto, e a parte excitante começa agora! Espero que gostem, comentem e todas essas coisas boas que servem para me apoiar! :)

quinta-feira, 6 de março de 2014

Continua...

  Chegaram e Michael reconheceu que a casinha tinha um aspecto um pouco sombrio. Estava intacta, sem buracos nem paredes caídas e, embora se visse que estava velha e inutilizada, parecia que alguém tomava conta da pequena estrotura, o que a tornava um pouco mais assustadora.
  - É feia - soltou Rafael.
  - Não é nada - ripostou Michael. - Tenta imaginar aquilo para que era usada. Imagina o que era feito e por que motivo foi construída.
  - Concordo - disse Gabriel, depois de dar uma volta à casinha. - É fantástica. Queres tentar abrir a porta?
  - Não, ainda nos cai em cima.
  A porta era de madeira maciça e estava segura à casa por varas de ferro enterradas nas paredes. O telhado era um paralelepípedo e, por cima da porta, como Michael pensava ter visto antes, havia um triângulo que continha os mesmos símbolos que as lareiras da mansão: o brasão de armas, os dois cavaleiros e, por baixo, o homem deitado, de olhos fechados e braços cruzados no peito.
  - Aquele homem... - começou Michael - isto é o mesmo que está nas lareiras. Achas que têm ligação?
  - Não sei, mas se calhar vai dar a algum cemitério - respondeu Gabriel.
  - Se vai, quero ir embora! - exclamou Rafael - Já são quase horas de jantar.
  - Tu estás é com medo - troçou Gabriel.
  - Não estou nada!
  - Ele tem razão. Se formos depressa demoramos, mais ou menos, quinze minutos. É melhor irmos andando.
  - Vamos lá, então.
  E afastaram-se da casinha. Parte da sua curiosidade estava satisfeita, mas a outra parte fazia Michael querer saber mais sobre aquele conjunto de símbolos que estava não só na casa dos bosques, mas também espalhado por toda a mansão."

E pronto, mais um excerto para espicaçar os curiosos :P

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Mais um pouco

"  Eram seis da manhã quando uma das criadas, de nome Josie, entrou no quarto dos rapazes. Abriu a porta de par em par, para evitar apanhá-los desprevenidos caso já estivessem a pé, e vendo que ainda dormiam atravessou o quarto em direcção às janelas. Era uma senhora já com anos de experiência naquele trabalho, tinha perto de setenta anos de idade e toda a sua vida trabalhara naquela casa como criada. Com uma voz meiga e maternal, depois de abrir as cortinas, chamou:
  - Meninos, o vosso pai mandou acordar-vos. Já está a pé e quer-vos prontos em uma hora.
  Rafael acordou de imediato. Era de longe o mais enérgico no que tocava a manhãs e não demorou até que acordasse Michael. Dez minutos depois já os três se vestiam e se preparavam para uma manhã a caçar, nos bosques que contornavam a vila, aquilo que seria o almoço do dia seguinte. Em breve desciam a escadaria do hall de entrada, correndo no alvoroço habitual dirigindo-se à sala de jantar. Havia mais três em toda a casa, mas as outras só estariam prontas daí a umas semanas, por isso, por agora, limitavam-se a usar aquela.
  Quando entraram já o pai estava sentado na cadeira do extremo oposto da mesa, lendo um livro e de roupa de caça vestida. Tinha a sua espingarda encostada à cadeira e esperava pelos três filhos para dar ordem para servirem o pequeno-almoço. Ao seu lado, de cada lado do cadeirão, estavam dois criados a quem tinha sido incubida a tarefa de servir exclusivamente William.
  - Bom dia, rapazes. - disse quando os viu entrar. - Muita fome?
  - Bom dia, pai. - Respondeu Michael. - Esfomeado!
  - Bom dia, pai. - disse Gabriel ainda ensonado.
  E , por último, antes de se sentar ao lado dos irmãos, que já haviam tomado os seus lugares, Rafael atravessou o salão, abraçou o pai forçando-o a largar o livro e a soltar um riso e gritou, com entusiasmo, na sua cara:
  - Bom dia, pai!!!"

E pronto, mais um excerto prometido e escrito. Comentem, digam se gostaram e se a curiosidade ainda vos atormenta ( se atormentava antes) :P
Ps: peço desculpa pela falta de imagens, mas tenho publicado pelo telemóvel e é mais complicado assim.
 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Segredos """ Secrets

Esta publicação vai ser mais curta, visto que tenho que escrever pelo telemóvel. Neste momento não tenho internet para além disto, por isso não vou poder publicar frequentemente. No entanto tenho segredos, agora, e quero deixar-vos curiosos. Estou no começo de algo importante para mim e talvez seja desta que me decido permanentemente em relação ao que quero da vida e ao que espero alcançar. Já vos dei antes um cheirinho deste novo começo e talvez amanhã sintam um pouco mais da curiosidade que espero que vos tenha deixado no espírito. Mas fico curioso em relação a isso e, por isso, peço a quem lê o blog, que comente este post e que me digam talvez o que pensam que vem aí ou o que quer que seja. De qualquer forma gostava que este fosse o post com mais comentários :)

 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

This text is going to be shorter, since I'm going to have to write it through my phone. At the moment I don't have internet connection at home, so I won't be able to publish as often as I would like to. Anyway, I have secrets to share and I want to make you al curious. Right now, I'm in the beggining of something that is important for me and it might be this time that I decide once and for all what I want to do with my life and what I'm expecting to achieve. I have given you before a little clue about this new beggining and maybe tomorrow you will feel a little more of the curiosity that I hope I have left in you. I'm curious about that and, for that, I ask, to whoever reads the blog, to leave a comment on this post and maybe tell me what you would think that is coming. Regardless, I would love it if this was the most commented post :)

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Desconhecidos

 "Passo a passo, um rapazinho seguia o caminho que o levava em direcção à Floresta dos Cem Ramos. Do outro lado da floresta encontrava-se a vila, e enquanto pensava no caminho que ainda teria que percorrer, o infante abria com dificuldade a bainha de cabedal que tinha presa à cintura. 

 Com as duas mãos ocupadas: uma com o punhal que o pai lhe tinha oferecido há anos atrás e a outra com a lebre que acabara de caçar, teve que abrandar o passo e aplicar um pouco mais de atenção ao que tentava fazer. Ao longo da faca, de lâmina ainda suja, escorriam gotas avermelhadas e brilhantes de sangue ainda quente e fumegante que pertencia à lebre, por isso, antes de mais nada, ajoelhou-se, procurou uma folha qualquer limpa, e poisando o animal morto no chão, deslizou-a na superfície lisa do punhal. Quando acabou de limpar a faca largou a folha outra vez no chão, embainhou o punhal, agarrou a lebre de novo sacudindo-a com cuidado para tirar a terra e levantou-se.

 Eram mais ou menos seis da tarde e a luz já se dissipava por entre as folhas das árvores. À medida que esta enfraquecia o rapazinho ia deixando de ver e pensando cada vez mais na lanterna que devia ter trazido. De vez em quando um ramo de uma árvore ou de um arbusto esquivava-se por entre os seus dedos e embatia numa das suas bochechas ou na testa deixando-a rosada:

 - Ah! Ah! Ah! - ia segredando a si mesmo cada vez que era chicoteado.

 O caminho era longo, e embora houvesse um carreiro que cortava por entre o bosque, àquela já só havia uma distinção possível aos seus olhos: o chão era preto e as árvores escuras, por isso limitava-se a andar a direito."

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Momentos na Vida

 Todos os textos que se seguem foram, um dia, há tempos, um segredo escrito e escondido pelo meio de folhas esquecidas com o tempo e relembrado agora talvez para partilhar com quem quer que seja que demonstre interesse.
 Há momentos na vida que todos queremos esquecer, que todos queremos tirar de dentro de nós e atirar ao ar em forma de grito ou de choro. Atirar à cara da vida para lhe mostrar que somos capazes de nos levantar, virar costas e continuar a correr até não poder mais. Mas às vezes não somos..


 " Hoje não sei o que escrever.
  Tenho um turbilhão de coisas: um furacão talvez. Um furacão de memórias tuas e minhas... nossas.
  Cada vez mais oiço que o medo não nos deixa viver, só nos faz morrer. Penso...
 
   Hoje penso em ti e a única coisa que sinto é uma dor no coração que me diz o quanto te amo e que me diz o quanto me esqueces a cada dia que me passa à frente dos olhos e que, por mais que tente agarrar, se esquiva por entre os dedos como fumo fugidio.
   Hoje não há mais nada a escrever , apenas há a sentir. A sentir os pensamentos de um coração que se parte e se cola de um dia para o outro. Sentimentos esses que apenas me deixam acordado para assistir a mais uma tortura.
   "Porque é que te amo tanto se a única coisa que aprendeste a fazer comigo foi a nunca saberes o que sou para ti?"
   Este sentimento de agonia derrete todos os dias mais um tijolo de que sou feito, ao saber que te quero tanto e que, a cada minuto que passa, tens menos a certeza do que outrora disseste e agora retiras.
   O hoje para mim vai ser mais um dia de serviço do meu inconsciente: o inconsciente dos medos e desejos que me gasta as lágrimas e o sangue. Talvez o fim da minha vida seja aquele em que me tornarei apenas em mais uma alma que vagueia pelo mundo sem sangue e sem cérebro.
   Prometo apenas, então, que quando esse dia chegar vou deixar de te procurar, porque esse dia será aquele em que também tu partirás.
   Até lá... Amo-te apenas por mais um pequeno dia.
                                                                                                                   Francisco"