terça-feira, 22 de julho de 2014

Eva

"  Depois de se separarem de Michael, Gabriel e Rafael correram em direcção às portas. Tinham que chegar ao quarto o mais rápido possível. As camas tinham que ser desfeitas e os lençóis e os cobertores amarrados e lançados pela janela.
  Quando entraram deram de caras com Josie, mas iam tão depressa que a única coisa que a empregada viu foi um par de vultos seguidos de uma brisa leve que lhe sacudiu as pontas do avental e do vestido e a deixou a falar para o ar ao tentar avisá-los que William os queria à mesa. Mas os irmãos não a ouviram. As suas mentes estavam já trancadas no quarto e, segundos depois, também os seus corpos lá se encontravam.
  Depressa desfizeram as três camas, deixando apenas um lençol sobre um dos colchões para que a pudessem deitar. Já sabiam que ia ficar tudo manchado, mas eram bons a inventar desculpas e, se alguém fizesse perguntas, era o que fariam.
  - Já está? - Perguntou Michael lá de baixo, quando Rafael acabava de fortalecer o último nó, dando-lhe outro por cima.
  - Está quase! - gritou por cima do ombro, enquanto passava o rolo duplo de lençóis à volta do pescoço.
  Michael estava a ficar preocupado. A rapariga começava a ficar branca como mármore branco, provavelmente por causa de todo o sangue que perdera. Estava quase a gritar, para a janela, que se despachassem, quando apanhou com uma cobra de cobertores na cabeça.
  - Desculpa! - gritou Rafael.
  Michael não respondeu. Estava agoniado, pois começara a sentir de novo aquele cheiro nojento. Queria chegar ao quarto, pousá-la e tratar dela depressa, para que acordasse e lhes respondesse a todas as perguntas que tinham, por isso puxou o rolo de tecido até à altura do chão, encaixou a cintura da rapariga no seu ombro e agarrou-se o melhor que conseguiu.
  Usando o corrimão de pedra do varandim com apoio, para facilitar, Gabriel e Rafael içaram o irmão e, pouco depois, ajudavam-no a a trepar para o quarto. Embora já todos tivessem dado pelo odor nauseabundo, conseguiram ignorá-lo. Gabriel aliviou o irmão do peso da rapariga, transportando-a pelo quarto até à cama, enquanto Rafael puxava o irmão pelo braço, agora também encharcado com o líquido vermelho vivo. Ainda tinham no quarto um alguidar de ferro cheio de água que tinham usado, nessa manhã, para lavar a cara, e, aproveitando que lá estava, Michael passou o sangue, que lhe manchava o antebraço, por água, até deixar de estar peganhento.
  Depois aproximaram-se da cama onde Gabriel a  tinha deitado.
  - Rafael, desfaz o rolo de lençóis e dá-me um deles, por favor - pediu Michael.
  - Está bem.
  - Gabriel, ajudas aqui? - sugeriu, desapertando o colete, que ainda estava atado à canela da rapariga.
  Com as duas mãos e muito cuidado, Gabriel afastou-lhe a perna do colchão, Rafael entregou a Michael um rectângulo de tecido limpo, dobrado, e este substituiu o colete ensopado pelo lençol, atirando-o depois pela janela, pois tinha percebido que era a fonte daquele cheiro horrível.
  Usando mais um dos lençóis e a água do alguidar, limparam-lhe  os cortes fundos, que ainda jorravam sangue, e voltaram a envolvê-los com cuidado e mais apertados. Teriam chamado o médico da vila e tratado da rapariga, se não fosse ela. Desconheciam o seu nome, não sabiam quem era e as suspeitas que tinham sobre ela não os ajudavam nas suas desconfianças, e agora tinham uma assassina adormecida no seu quarto.
  As suas feições estavam tranquilas, tinha a pele de um branco de morte, mas viam que respirava, por isso, para que não lhes fugisse e desaparecesse de novo, decidiram que seria melhor vigiá-la.
  - Devias ficar tu aqui, Michael - disse Rafael.
  - Estás todo sujo - continuou Gabriel. - Se ficares aqui evitamos perguntas.
  - Não sei. Vão fazer perguntas na mesma.
  - Nós dizemos que não te sentes bem, trazemos-te comida e pronto - declarou Rafael, com um sorriso de satisfação estampado na cara.
  - Está bem. Tentem não demorar, então!
  Tinha fome, mas, embora ainda não o tivesse admitido, estava mesmo mal disposto, por isso, de qualquer maneira, precisava de ficar à janela, de nariz ao ar livre, para se conseguir livrar do cheiro que se lhe instalara nas vias nasais.
  E assim foi. Gabriel e Rafael desceram e Michael pendurou-se na janela, voltando para dentro pouco depois. Estava curioso. Queria saber mais sobre a rapariga, por isso, na esperança de aprender observando, puxou o cadeirão da lareira para perto da cama e sentou-se, fixando, com os seus olhos, a rapariga, o seu vestido e os seus cabelos sujos. Tinha pestanas compridas e negras que contrastavam com os seus fios de cabelo dourados. Tinha um nariz redondo e delicado e queixo e pescoço finos, tal como os seus braços, embora Michael já tivesse testemunhado o quão fortes eram.
  O quarto estava em silêncio. Não passava ninguém no corredor, e foi aí que Michael reparou nas rosas. Pequenas rosas bordadas no vestido branco, igualmente sujas. Quis tocar-lhes, mas, por algum motivo, tinha um pouco de medo. Já tinha a mão estendida no ar na direcção do tronco da rapariga, quando hesitou, deixando-a imóvel mas trémula a meia distância do vestido.
  "E se acorda e me ataca outra vez?" perguntou-se. Pensamento que o fez recuar um pouco, mas era mais curioso do que medroso. Ajeitou-se no cadeirão e aproximou a mão do vestido, de novo. As rosas eram pequeninas e às centenas e, embora estivessem manchadas, sentia-as como se tivessem sido acabadas de lavar. Eram feitas de pequenos rolos de tecido com pétalas em círculo e raminhos esculpidos na malha.
  - Ah...!!
  Sem que tivesse reparado, a rapariga tinha aberto os olhos."


Novo capítulo começado e a aventura continua :) espero que, tal como eu não consigo parar de escrever, não consigam parar de ler!
  

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A Esfera que Flutua "" The Floating Sphere

"  De vez em quando deixavam a mente vaguear um pouco, entreolhando-se e olhando à sua volta. Observavam as nuvens, as ervas altas que libertavam aquele odor forte e todas as lápides que enchiam o quadrado formado pela cerca de ferro preto.
  Por vezes ouviam uma pessoa tossir ou outra a fungar e afundar a cara no trapo velho que servia de lenço.
  Michael não se sentia triste, mas sim nostálgico, tal como os irmãos. Não sabia como nem o porquê de estarem ali, agora, mas não fazia diferença. O que era, era. E então, visto que gostava de observar, procurava distracção em tudo à sua volta. Viu como, mesmo sem luz, tudo brilhava, como que chorando, sentiu o vento nas mãos transpiradas e fixou as árvores que dançavam ao longe, apenas para notar que entre elas estava um brilho mais intenso. Manteve o olhar fixo nele, pois não conseguia decifrar o que era, mas ao fim de poucos minutos desapareceu, por isso Michael voltou a prestar atenção a tudo o que o rodeava. Pessoas tristes e vestidas de preto, que, no fim das orações e dos caixões desaparecerem no escuro da cova, começaram a arrastar os pés de volta à sua vida. William e Muriel seguiram-nos, e os irmãos ficaram um pouco mais.
  - Que estupidez - disse Rafael.
  - O quê?
  - Isto tudo - continuou.- Acho estúpido que os enterrem.
  - Nem todos pensam assim - ripostou Gabriel. - Não tens que ser tão bruto.
  - As pessoas perdem a dignidade toda, assim.
  - Não sejas parvo! - exclamou Michael.
  E virou costas, começando a andar em direcção à saída, seguido pelos irmãos.
  Estava prestes a alcançar o pequeno portão de ferro preto que fechava o quadrado, quando Gabriel o agarrou pelo braço da camisa, que estava ao alcance dos seus dedos pois era apenas sobreposta por um colete de um negro brilhante.
  - Ai! - resmungou. - Que foi?
  - Olha - disse o irmão.
  E apontou para as árvores, ao longe, onde agora se encontrava o estranho brilho branco que Michael tinha observado, momentos antes. Um pequeno circulo claro que flutuava conjuntamente com as folhas verdes ao sabor do vento.
  - O que é? - perguntou Rafael a si mesmo, embora o tivesse feito em voz alta.
  - Não sei - respondeu Michael. - Parece uma bola de fumo.
  - Se fosse uma bola de fumo não ficava no mesmo sítio durante tanto tempo - constatou Gabriel.
  - Eu sei, mas não conheço mais nada que flutue assim.
  Entretanto já se tinham esquecido do pequeno portão, caminhando em direcção ao que ainda tomavam como sendo uma bola de fumo. Por segundos viram-se impedidos de andar, pois no seu caminho, embora esquecida, ainda estava a cerquinha preta de meia altura, mas pouco depois já lhe tinham passado as pernas por cima, e, numa fracção de segundos, passou de obstáculo a apenas mais um elemento da paisagem.
  - Au! - grunhiu Rafael.
  - Que foi?
  - Raspei a perna neste bico estúpido - respondeu, ao mesmo tempo que esbofeteava a ponta da cerca, como se quisesse libertar aquela raiva momentânea.
  Mas era algo de pouca importância, por isso, em pouco tempo, aquela dor tinha sido substituída por mais um pouco de curiosidade e os irmãos continuaram a dirigir-se ao círculo, que agora flutuava no meio dos três troncos encarquilhados de uma árvore velha, um pouco mais à esquerda do que antes, parecendo ter sido arrastada pelo vento que começava a levantar-se mais forte.
  - Não é fumo - comentou Gabriel, em segredo, com Michael.
  Parecia não querer que aquilo o ouvisse.
  - Pois não - respondeu Michael. - É muito opaco.
  E, de facto, não conseguiam ver através nem à volta do que se tinham apercebido, então, que era uma esfera e não um círculo, pois emitia um brilho forte, branco, que contrastava com o escuro do bosque e daquele céu nublado, como se fosse um pequeno sol que pairava ali, ao nível dos seus olhos.
  Não se moveu quando decidiram aproximar-se mais, nem quando chegaram perto dos três troncos enrugados e a fitaram, sem falar, durante cerca de dez minutos. Parecia feita de vidro branco, maciço, pesado e baço, e tais características funcionaram como uma provocação à curiosidade táctil de Michael, que, passado tanto tempo, ganhou coragem e estendeu a mão. A luz que emanava do objecto era forte, mas aos irmãos tal não fazia diferença.
  - Vais tocar-lhe? - perguntou Rafael num tom de incredulidade.
  - O que é que te parece?!
  E susteve a mão no ar.
  - Nem sabes o que é!
  - E não vou descobrir se ficar especado a olhar para ela - ripostou.
  E voltou, de novo, o olhar na direcção da esfera .
  Sentia um pouco de medo, mas a curiosidade era maior e aumentou ao aperceber-se de que a esfera branca era mesmo feita de fumo. Era fria, mas para além disso, não a sentia. Era como se nem estivesse ali, e, apesar disso, embora a sua mão estivesse mesmo ali, dentro da esfera já não a via.
  - É fria - constatou.
  - E afi... - começou Rafael.
  A sua frase foi interrompida quando, de repente, a esfera, que outrora estivera imóvel, estremeceu."



Mais um excerto que leva a mais um pouco de acção. Não tenho publicado tanto ultimamente, mas continuo a escrever e espero continuar a ter o mesmo ou mais apoio de quem lê e aprecia :)

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" Once in a while, they'd let their minds wonder a little bit just by looking at each other and by looking around. They'd observe the clouds, look at the tall grass that had that distinctive and strong smell and all the tombstones that filled the square made by the black iron fence.
  Sometimes they'd hear someone coughing or someone else sniffing and sticking their face in the old rag that they used as a tissue.
  Michael wasn't feeling sad, but he was nostalgic, just like his brothers. He didn't know why or how they had gotten there, but it didn't make a difference. Whatever was, it just was. And so, because he liked observing, he started searching for a distraction in everything around him. Suddenly he could see how, even without any sunlight, everything was shinning  as if everything was crying. He could feel the wind blowing by his sweaty hands and, far away where the trees seemed to dance around in the wind, he could notice a spot that was glittering more intensely . He kept his eyes on it for a little while because he couldn't seem to make out whatever that was, but it vanished a bit after, so Michael went back to paying attention to everything surrounding him. Sad people dressed in black, that, after all the prayers and after the coffins went under the darkness of the pit, started dragging their feet back to their own lives. William and Muriel followed them while the brothers stayed for a little longer.
  - This is stupid - Rafael said.
  - What is?
  - All of this - he kept going. - I think it's stupid that they bury them.
  - Not everyone thinks like that - Gabriel riposted. - You don't have to be so rude.
  - People lose all their dignity like this.
  - Don't be an idiot! - Michael exclaimed.
  And then he turned his back on them and started walking back to the exit, followed by his brothers.
  He was about to reach the little, black iron gate that shut the square, when Gabriel grabbed him by the arm of his shirt that was on the reach of his fingers, because it was only covered by a shinny black vest.
  - Hey! - Michael grumbled - What?
  - Look - Gabriel said.
  He was pointing at the trees, far away, where now they could see the odd, white glitter that Michael had seen before. A small, light colored circle that was floating in the wind along with the green leaves.
  - What is it? - Rafael asked to himself, even tho he did it loudly.
  - I don't know - Michael answered. - It looks like a smoke ball.
  - If it was a smoke ball, it wouldn't stay in the same place like that - Gabriel said.
  - I know, but i can't think of anything else that can hover like that.
  Meanwhile, they had already forgotten the little gate and were walking towards what they still thought to be a smoke ball. For a second they were stopped from walking because of the little fence that, even having been forgotten, was still in their way. A little while after they had already gotten their legs over and it and it had now gone from being an obstacle to being just a part of the landscape.
  - Au! - Rafael grunted.
  - What is it?
  - I scratched my leg on this stupid fence! - he answered while he slapped it as if he was looking for a way to let that momentary anger out.
  But that wasn't important, so, in a phew seconds, that pain had been replaced by a little more curiosity and the brothers kept heading towards the circle that was now hovering in the middle of three wizened logs that belonged to one of the trees a little bit more on the left than before, making it look like it had been dragged by the wind that was starting to grow stronger.
  - It's not smoke - Gabriel whispered to Michael.
  He seemed not to want that thing to hear him.
  - It's not - Michael answered. - You can't even see through it.
  And, as a matter of fact, they couldn't see either through or around what they had realized to actually be a sphere and not just a circle, for it had this strong, white, bright light all around it that made it contrast with both the dark of the forest and the cloudy sky, like it was a little sun floating in front of their eyes.
  It didn't move when they came closer or when they came near the three wrinkly logs and looked at it for about ten minutes without saying a word. It looked like it was made of white, solid, heavy, dull glass and such features provoked Michael into touching it. After gathering his courage, he held out his hand in its direction.
  The light that was coming out of it, was blinding strong, but to the brothers, that didn't make a difference.
  - Are you going to touch it? - Rafael asked.
  - What does it look like?
  - You don't even know what it is!
  - And i'm not going to find out what it is by just standing here.
  After saying this, he looked back at the sphere.
  He felt a bit afraid, but his curiosity was stronger and became even stronger when he realized that the white sphere was really made of smoke. It was cold, but, apart from that, he couldn't even feel it. It was like it wasn't even there, and yet, even though his hand was right there, inside it he couldn't see it anymore.
  - It is cold - Michael said.
  - And s... - Rafael started.
  His sentence was interrupted when, suddenly, the sphere that hadn't moved until now, trembled."


One more excerpt that has a little more action. I haven't been posting that much lately, but I didn't stop writing and i hope i have the same or more support now from those who actually read and appreciate my work :)

terça-feira, 20 de maio de 2014

Estranha Assassina """" Assassin

"  Enquanto subia os degraus, três a três, Gabriel saiu para a rua, onde estava Rafael, e trepou para as costas do cavalo. Sabia que não valia a pena seguir Michael e preferia estar preparado para o que quer que acontecesse a seguir.
  Com um estrondo, Michael abriu a porta do quarto ao cimo das escadas e perdeu o ar. Deparou-se com o que provocaria náuseas a qualquer um, principalmente a si, mas estava tão determinado em descobrir o que se passava que tinha posto de parte todos os sentidos. Todos menos a visão, e agora observava  o cenário mais horrível do dia.
  Havia apenas uma cama grande e uma de metro e meio de comprimento em que só cabia uma pessoa. Os colchões eram de palha e os cobertores eram grossos e de lã. Estavam embebidos no sangue que se lhes entranhara, que encharcara o chão e que começara a pingar para o andar inferior. Na cama pequena estava quem deveria ter sido o filho da senhora. Tinha um pijama branco e roto e a sua cabeça, na qual Michael conseguia distinguir uns olhos azuis, aterrorizados, estava meio separada do corpo. Na outra cama estava uma figura, também ela branca, que se contorcia sobre uma segunda, e que estava ensopada no sangue das suas presas, que a cobria toda a superfície que Michael conseguia observar.
  O que quer que fosse  não parecia ter dado por nada quando Michael entrou. Estava demasiado empenhado na tarefa de drenar o homem, e só parou depois do rapaz ter verificado que o som que ouvira era o do sangue a abandonar o corpo do homem e o odor era o de morte.
  Passaram-se alguns segundos até que parasse e se levantasse e endireitasse em cima da cama. Michael ouviu soluçar. Apercebeu-se de que tinha cabelo e era comprido e loiro, embora estivesse pintado no vermelho de todo o sangue com que acabara de se lambuzar. Espreguiçou-se, enfrentando ainda a parede. Estava por cima do corpo sem vida do senhor e balançou-se um bocadinho, como que dançando, até que parou.
  Michael susteve a respiração. Esperava que o que quer que fosse não se virasse, não o visse e o atacasse ou simplesmente desaparecesse. Mas ela virou-se. Era só uma mulher. Uma rapariga com a boca contornada em vermelho vivo e com um olhar tão admirado como o de Michael. Tinha a pele branca, como o vestido que usava, e, por poucos segundos, limitou-se a fitar o rapaz parada, de costas torcidas e de mãos abertas, como que enojada com o líquido que lhe pingava do queixo e das pontas dos dedos.
  De repente largou a correr. Saltou da cama para a janela e da janela para a rua.
  - Eh! Espera!! Gabriel!!! - chamou Michael, esperando que os irmãos o ouvissem e a agarrassem lá fora.
  Imediatamente a seguiu.
  A rapariga saltava de telhado em telhado, correndo à velocidade de um cavalo selvagem, sem qualquer dificuldade, e Michael, sem se aperceber, fazia o mesmo. Gabriel e Rafael tinham ouvido os gritos e, nas ruas abaixo dos telhados das casas por onde a rapariga e o irmão saltavam, seguiam, a cavalo, a toda a velocidade. Às vezes, com a distracção de ter que olhar para cima enquanto conduziam os cavalos, Gabriel e Rafael quase se estatelavam contra as paredes de madeira das casas, mas desviavam-se sempre a tempo e a perseguição continuava.
  Em cima dos telhados, Michael tinha o olhar fixo no vestido ,que ganhara forma de balão com a velocidade, e nos cabelos loiros, sujos e chicoteantes, aos quais se chegava cada vez mais. Estava descalça, mas não parecia magoar-se nem sequer importar-se com as farpas que a madeira dos telhados soltava quando passava, e ,cada vez que Michael a começava a alcançar e esticava a mão para a agarrar pelo vestido, ela descrevia uma curva de noventa graus que quase o fazia cair do topo das casas e o deixava bastante para trás.
  Foi quando estavam perto do fim da vila, nas últimas casas antes da floresta, que Michael a conseguiu finalmente alcançar. Gabriel e Rafael ainda os seguiam de perto pelas ruas e ruelas da vila, embora os cavalos já estivessem esgotados, e, quando faltavam quatro telhados para alcançar a floresta, a rapariga saltou, erguendo-se alto no ar, dirigindo-se a um dos pinheiros mais altos. Michael fez o mesmo, mas teve mais força e saltou mais, interceptando-a a meio do ar e despenhando-se no chão sobre a rapariga que devia ser a mais rápida, resistente e maluca do mundo. Pelo menos era o que Rafael achava naquele momento, enquanto parava o cavalo ao lado do de Gabriel e o tentava desmontar o mais depressa que conseguia.
  Michael estava por cima da rapariga, no chão, de joelhos afundados na terra, de forma a prender-lhe o tronco à lama, e de mãos envoltas nos pulsos da rapariga, aprisionando-os também.
  O vestido que ela usava era agora apenas um pedaço de tecido, feio, pintado de vermelho e castanho sujos: um trapo. Tinha o cabelo molhado e enlameado e os pés enterrados na lama do início dos bosques, com os joelhos dobrados atrás das costas de Michael e a cabeça pressionada contra o tronco do pinheiro. Estava presa e, aparentemente, indefesa, mas não parecia assustada. Em vez disso fixava os seus olhos dourados nos de Michael, intensos e firmes, como que raivosa por ter sido apanhada. Não dizia uma palavra e não mexia um músculo.
  O rapaz observou-a durante uma fracção de segundo. Era bonita: era a mulher mais bonita que já tinha visto, e no entanto, em vez de frágil e assustada, sentia-a firme e agressiva.
  - Quem és tu? - perguntou Michael, apertando-lhe mais os pulsos.
  Ela cerrou os punhos, mas não respondeu.
  Tinha os olhares dos três irmãos fitos em si, curiosos, mas não parecia querer tirar o seu da face de Michael.
  - Quem és tu?? - insistiu.
  E a rapariga, de olhar frio e fixo no de Michael, insistiu também no seu silêncio.
  Tinha fogo da cor de ouro nos olhos e manteve-se quieta por pouco tempo, até que mexeu as pernas e os pés. Depois começou a contorcer-se mais e mais depressa, fazendo força com todos os membros e em todas as direcções.
  - Está quieta! - ordenou Michael.
  De repente sentiu uma pancada no meio das pernas.
  - Ai! - gritou.
  De alguma forma tinha conseguido soltar o joelho e dar-lhe uma joelhada bastante dolorosa.
  Michael não consegui evitar soltá-la e contorcer-se, os irmãos estavam sem reacção e, em poucos segundos, tinham acabado de deixar fugir a desconhecida que tinha acabado de matar duas pessoas, e que podia ser a assassina de Noah. Mas, de alguma forma, e embora estivesse encolhido no chão, de roupa, cara e cabelos cobertos de lama e gemendo de dores, Michael não iria conseguir deixar de a lembrar como sendo a mulher mais bonita que já tinha visto."


Mais um pedacinho de história que adorei escrever :P espero que gostem tanto como eu, que comentem e que partilhem com toda a gente de que se lembrarem!

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"  While he climbed the stairs, three by three, Gabriel went outside, where Rafael was, and climbed to the back of his horse. He knew that following Michael wasn't going to do any good and he's rather be ready for whatever happened next.
  Loudly, Michael opened the upstairs room's door and when he saw it he wasn't able to breath anymore. He saw what would make anyone want to puke, specially him, but he wanted so much to find out what was happening that he had shut down every sense. Every one except his vision, and he could now observe the most horrifying scenery he had seen that day.
  There was only one big bed and a one meter and a half long one where you could only fit one person. The mattresses were made of straw and the blankets were made of wool. They were all wet with the blood that had entrenched itself on them, soaked the floor and that had started to trickle into the floor below. The one that should have been the woman's son was the one lying on the little bed. He was wearing a white, shabby pajamas and his head, in which Michael noticed a pair of terrified blue eyes, was almost separated from his body. In the big bed he could see an also white form, twitching itself on a second one, soaked on the blood of its preys, which covered everything Michael could see.
  Whatever it was, it didn't seem to have noticed him when he walked in. It must have been too focused on the task of draining the man of his own blood and it only stopped after the boy had made sure that the noise he heard was coming from the blood leaving the man's body and the smell he could feel was the smell of death.
  A few seconds went by until it stopped, raised itself and straightened its back, standing on the bed. Michael heard it sob. He could finally see that its hair was blonde and long, although it was painted red with the blood it had just besmirched itself with. While still facing the wall, it stretched itself. It was still on the man's lifeless body and it shook itself a little bit, just as if it was dancing. Then it stopped.
  Michael stopped breathing. He was hoping it wouldn't turn around, see him and attack him simply flee. But she turned around. It was just a women. A girl with her mouth and chin painted in bright red and her eyes showing as much surprise and Michael's. Her skin was white like the dress she was wearing and, for a few seconds, she just kept still and stared into the boy's eyes with her back twisted and her hands open as if she was disgusted with the liquid that was dropping from her chin and the tip of her fingers.
  Suddenly she ran. She jumped from the bed to the window and from the window to the street.
  - Hey! Wait!! Gabriel!!! - Michael shouted, hoping that his brothers would hear him and catch her outside.
  He immediately started chasing her.
  The girl jumped from the roof of a house to the roof of the other, running effortless at the speed of a wild horse, and Michael was doing the same without even noticing it. Gabriel and Rafael had heard the shouting and were now chasing after them down in the streets at full speed with their horses. Sometimes, because they had to look up while directing the horses, the two brothers would almost go against the wood walls, but they would always dodge them at the last second and the chase would go on.
  On the roofs, Michael had his eyes on the dress, that was now shaped like a balloon because of the speed, and on her blonde, stained, lashing hair which he could almost touch. She wasn't wearing any shoes but she didn't seem to mind it or even hurt herself with the splinters of wood coming from the roofs at her passage and, every time Michael came close to grabbing her dress, she would make a ninety degree turn, almost making him fall off the roofs and delaying him a bit more.
  It was when they were in the town's edge, in the last houses before the forest, that Michael could finally reach her. Although the horses were tired, Gabriel and Rafael were still nearby, following through streets and alleys, and the girl jumped when there were only four roofs left before the woods, raising herself high in the air, heading towards one of the tallest pines. Michael did the same but was stronger in his jump and was able to catch her in mid air, ending up falling on the floor over the girl that, according to Rafael's thoughts, who was climbing down his horse as fast as he could, should be the fastest, toughest, craziest girl in the world.
  Michael was on the floor, on the girl, his knees pressing her body against the mud and his hands around her wrists, imprisoning them too. The dress she was wearing was now but a piece of ugly, dirty red and brown tissue: nothing but a rag. Her hair was wet and muddy and her feet were buried in the mud from the beginning of the woods, with her knees bent behind Michael's back and her head pressed against the pine's trunk. She was stuck and apparently helpless, but she didn't seem to be scared at all. Instead, she kept her golden and intense eyes on Michael's, as if she was angry for having been caught. She wouldn't say a word or even move.
  The boy looked at her for less more than a second. She was beautiful: the most beautiful women he had ever seen, and yet, instead of fragile and scared, he could feel her strong and aggressive.
  - Who are you? - Michael asked, squeezing her wrists even more.
  She closed her fists and kept quiet.
  The three brothers were staring at her, curious, but she didn't seem to want to take her eyes off Michael's face.
  - Who are you?? - he insisted.
  And the girl answered by staying quiet and keeping her cold look on Michael's.
  She had golden fire in her eyes and, for a bit, she didn't move, until she stretched her legs and feet. Then she started twitching, pulling and pushing her hands and feet, arms and legs in all the directions and as strong as she could.
  - Stop!! - Michael commanded.
  Suddenly he felt a strong blow between his legs.
  - Ah! - he yelled.
  In some way she had been able to free her knee and strike him in a very painful way, and, in a few seconds, they had let the murderer of two people ,and possibly Noah's, escape. But somehow, although he was curling on the floor, with his clothes, his hair and his face covered in mud and moaning in pain, Michael would never be able to forget the beauty of the most beautiful women he had even seen."


And here is one more piece (that I enjoyed so much writing) of the book :P I hope you like it as much as i did, and of course you are welcome to comment on it and share it with anyone and everyone you remember!

domingo, 20 de abril de 2014

A Queda


"Dia sim, dia não, eram visitados pelo médico da vila, que vinha examiná-los de modo a evitar infecções ou qualquer outro desastre que pudesse surgir. Dia sim, dia não, ele vinha. Examinava o ombro de Michael, que se encontrava quase repleto de carne e pele e que melhorava a olhos vistos, observava a mão de Rafael, que já estava curada, mas que insistia em envolver em ligaduras, e por último desembrulha a perna de Gabriel e, de olhos arregalados, exclamava: "Estes miúdos de hoje em dia...!"
  - Já posso andar, senhor? - perguntou Gabriel, depois do médico lhe cobrir com ligaduras, de novo, a perna.
  - Não - respondeu. - A tua perna parece estar bem, mas feridas como estas não se curam assim. Deve haver mais alguma coisa que eu não consigo ver.
  A dor já não os apoquentava, mas mesmo assim o médico insistia em embrulhá-los naquelas ligaduras parvas, e agora começavam a pensar que ele não fazia ideia do que estava a fazer.
  Sabiam que se tinham curado depressa. Feridas daquelas demorariam, com certeza, mais do que seis meses a curar-se e eles tinham ficado bons em duas semanas, mas o homem já começara a ganhar o nome de "imbecil" devido ao tratamento que lhes dava.
  Não podiam sair do quarto, mas durante o dia, quando sabiam que ninguém vinha, aproveitavam para se levantar, esticar as pernas, lutar um pouco e fazer tudo o que seria saudável e normal para rapazes com a idade deles: saltavam da cama de Michael para a de Gabriel, corriam durante três ou quatro horas e, de vez em quando, gostavam de se pendurar na parte de fora das janelas por uma ou duas horas. Comiam apenas ao pequeno-almoço e ao jantar, mas, com o decorrer do tempo, isso era algo que os incomodava cada vez menos.
  Embora fosse Verão, os dias continuavam farruscos, e numa tarde, enquanto Gabriel e Rafael se esmurravam, Michael pendia por um braço do lado de fora da janela. Conseguia sentir a rugosidade das pedras frias da mansão, e ao mesmo tempo que reparava num ratinho que cheirinhava a terra, Muriel entrava no quarto.
  Os três irmãos tinham concordado que os pais não podiam saber o que faziam durante o dia, por isso, quando Michael ouviu a voz da mãe, que trazia a notícia da parte do médico, que já podiam mexer-se à vontade e sair do quarto, e que perguntou onde ele se encontrava, o seu instinto ditou-lhe: "Larga!". E largou.
  Foi uma queda de dois segundos, durante os quais o vento soprou mais forte, os seus olhos se fecharam e aterrou andar e meio mais abaixo, sobre algo que provocou um estrondo seco de tábuas a partir.
  Muriel, Gabriel e Rafael correram para a janela. Nenhum deles sabia o que tinha acontecido e, quando se debruçaram sobre o parapeito de pedra, puderam ver.
  Michael encontrava-se dentro de um buraco quadrado com cerca de um metro de profundidade e pouco mais do que a sua largura. Estava encolhido e de olhos fechados e no seu pensamento ainda ecoava a palavra "morri".
  - Michael! - exclamou Muriel.
  O rapaz abriu os olhos.
  - Estás bem? - perguntou Rafael.
  - Estou - respondeu olhando para cima.
  Levantou-se, esticou as pernas, verificou se não tinha nada partido e, para seu espanto e alívio, percebeu que estava tudo no sítio.
  - Está tudo bem! - afirmou, olhando de novo para os irmãos e para a mãe, sorrindo.
  Muriel estava estupefacta, de boca tapada com a mão, e Rafael e Gabriel  estavam calados. Todos tinham um olhar aterrorizado e nenhum dizia uma palavra.
  - O que foi? - perguntou o rapaz.
  Começava a ficar assustado, e com razão.
  - Michael... - disse Gabriel, apontando.
  Ao início ficou baralhado, pois o irmão acabara de apontar para si, mas foi então que resolveu olhar para o chão que pisava.
  - Aah! Merda! - gritou.
  Num segundo pôs-se fora do buraco, sacudiu-se , e lá estava ele. Estava contorcido, partido, rasgado e sujo, com expressão de horror."

 E pronto, uma noite mal dormida por causa da escrita :P espero que gostem e peço desculpa pela demora.
 

domingo, 30 de março de 2014

Novos Acontecimentos

  Foi contando tudo e observando a ansiedade do pai, até que Peter entrou no quarto. Trazia um ar cansado, meio transpirado, e carregava uma certa aflição nos olhos.
  Abriu a porta de rompante e travou um pouco, ao ver que os irmãos já tinham acordado. Sabia que tinham dormido quatro dias seguidos, mas tentou esconder um pouco a admiração.
  - Bom dia, rapazes - disse, esforçando um sorriso simpático.
  Em seguida, apróximou-se de William e segredou-lhe algo ao ouvido, endireitando-se e saindo, depois, sem mais uma palavra. O pai levantou-se e seguiu-o a passo rápido.
  - Viste como o Sr. Peter estava? - perguntou Rafael, dirigindo-se a Gabriel.
  - Achas? Daqui não vejo nada!
  Na outra cama, Michael moveu-se um pouco, gemeu, mas continuou a dormir.
  - Parecia preocupado - continuou Rafael. - Espera.
  Levantou-se e andou devagar, tentando manter o braço no sítio, até à janela, onde observou um conjunto de dez criados, rodeados por habitantes da Vila, transportando algo coberto por um tecido branco manchado.
  - Aconteceu alguma coisa - disse.
  - O que foi? - perguntou Gabriel, do outro lado do quarto.
  - Estavam a trazer alguma coisa para dentro, mas não consegui perceber o que era.
  Manteve os olhos na entrada da casa, e, segundos depois, afastou-se da janela. Tinha agora uma expressão decidida, e, a passo rápido, atravessou o quarto e sentou-se na cama, verificando se as ligaduras do braço estavam bem presas. Calçou os sapatos, vestiu uma camisola de manga comprida e voltou a levantar-se.
  - Onde é que vais? - perguntou Gabriel.
  - Vou ver o que se passa.
  - Está bem. Conta-me tudo, depois.
  Rafael acenou com a cabeça, enquanto se dirigia para a porta, e saíu para o corredor, o mais rápido e silenciosamente que conseguiu.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Simples Felicidade

  A vida é feita de coisas simples. Coisas que nos fazem felizes ou tristes, e que em certos momentos podem parecer complicadas. Mas quando se resolvem, não podiam ser mais fáceis de explicar.
  Hoje escrevo um texto um pouco diferente. Não para só para um amigo, mas também por causa de um amigo, e para uma rapariga que, embora não conheça, passei a considerar minha amiga também.
  Tem sido um pouco difícil resolver-me com as palavras, por isso espero que compreendam todos os "tus" e formas verbais na segunda pessoa do singular, pois servem para que fique um pouco mais à vontade.
  Conheço-te há bastante tempo. Sempre foste uma amigo que me ouviu e a quem ouvi, e posso dizer agora que te conheço bastante bem. Bem o suficiente para vos dirigir este texto.
  Hoje estive metade do dia à procura de temas e imagens que pudesse pôr no blog, o que me deixou sem tempo para escrever, nem para pensar em nada para além de "Porra para isto!". Mas é sempre bom saber que, nestes momentos, há coisas que nos trazem de volta para onde pertencemos, e é bom poder dizer-vos agora que hoje voltei com a vossa ajuda, e de uma fotografia.
  Na fotografia estás tu: um rapaz de cabelos pretos, sorriso posto e olhos brilhantes. E tu: uma rapariga bonita, de cabelos vermelhos, sorriso rasgado e olhos tão brilhantes como os dele. Algo simples, que no meio do aborrecimento me trouxe de volta um pequeno sorriso difícil de controlar, montes de pensamentos, e me trouxe a vontade de escrever de uma maneira um pouco diferente.
  O texto não está enorme, tão bom quanto gostava que estivesse, para que percebessem que estou feliz por vocês, mas espero que dê a entender que a felicidade se constrói a partir de algo que parece complicado, mas que no fim não podia ser mais simples do que uma fotografia com dois sorrisos que pertencem um ao outro.

Felicidades Helder :)
  

segunda-feira, 17 de março de 2014

A Fuga

  "Estavam agora numa pequena sala quadrada e, com a luz que se esguelhava pelos vários buraquinhos na porta e no telhado, conseguiam ver que o chão da salinha estava coberto por pequenas ervas macias, sobre as quais puderam pousar Gabriel.
  Juntos tentaram abrir a porta, mas esta parecia estar trancada, por isso tentaram deitá-la abaixo, utilizando algumas pedras, que estavam amontoadas a um canto da salinha quadrada. Mas as suas tentativas foram vãs, e a exaustão começava a tomar-lhes conta do físico, por isso deixaram-se cair perto do irmão.
  A perna de Gabriel jorrava sangue, e Michael sabia que não podiam demorar muito mais. O desespero começava a invadir-lhe o pensamento.
  - Aau! - gemeu Rafael ao sentar-se.
  - O que foi?
  Rafael levantou-se e tacteou as ervas.
  A sua expressão alegrou-se um pouco quando tirou, do meio das ervinhas, um varão de ferro.
  - Podemos usar isso! - exclamou Michael.
  - Como alavanca.
  Michael voltou a levantar-se e encaixaram o varão num dos lados da porta de madeira.
  Finalmente um pedaço cedeu, e depois outro e outro, formando um buraco suficientemente grande para passarem.
  Primeiro levantaram Gabriel. Apoiando-o novamente nos seus ombros, levaram-no até à porta. Rafael saíu primeiro, depois passaram Gabriel, e Michael saíu em terceiro.
  Era de manhã, e a julgar pelo ar que corria, frio e limpo, levado por uma brisa leve e delicada, era ainda muito cedo, e quando conseguiram esgueirar-se pelo buraco que haviam feito na porta, aperceberam-se de onde estavam.
  - Rafael, - chamou Michael - é a casinha. É a casinha dos bosques.
  Para além do buraco que tinham aberto, a casinha continuava intacta, e estava agora cercada por centenas de rosas brancas, como as que tinham encontrado no salão subterrâneo.
  Agora que sabiam onde estavam, sabiam para onde tinham que ir, por isso, carregando Gabriel, procuraram a estrada para a mansão. Quando a encontraram, tropeçaram e cambalearam por ela fora, dirigindo-se para casa.
  - Mais rápido - disse Michael.
  - Estou a tentar - respondeu Rafael.
  - Não te procupes, o pai e a mãe hão-de saber o que fazer."

Mais um pouco partilhado :) espero que gostem, que comentem tudo isso. Este  causou-me dores nos dedos, de tanto escrever :P