quinta-feira, 13 de março de 2014

O Túnel

 " - Outra vez aquele sonho parvo - respondeu enquanto esfregava o ombro. - Parece sempre tão real.
  Cerrou os punhos, de raiva.
  - Não precisas de ficar assim, já passou - acalmou-o Gabriel.
  Sabia o quanto tudo aquilo era difícil para o irmão, e compreendia que, para Michael, acordar quase todas as noites às duas da manhã, era uma adição um pouco irritante, aos pesadelos.
  Destapou-se, andou até à cama do irmão e sentou-se aos seus pés. Rafael fez o mesmo, já que estava bem acordado.
  - Nunca nos contaste o que acontece ao certo, nesse sonho - disse Gabriel um pouco a medo, pois não se sentia bem em fazer o irmão falar daquilo.
  Mas pensou que talvez fizesse bem a Michael.
  O rapaz suspirou, esfregou a cara com as mãos e fitou os dois irmãos. Largou outro suspiro.
  - O sonho é sempre o mesmo - começou. - Sonho que estou num corredor, mas não é bem um corredor. Um túnel. Não vejo nada à minha volta, porque está tudo escuro. Tenho uma lanterna na mão, mas não a consigo acender.
  "Ao fundo do corredor, muito ao longe, oiço estrondos, como se estivesse alguém a atirar pedras enormes contra a parede. Como não vejo nada e, para além de saber que é um túnel, não sei onde estou, começo a andar em direcção aos sons.
  Fechou os olhos para tentar lembrar-se melhor de tudo. Esticou os braços para os lados e abriu as mãos, como se tocasse nas paredes do túnel, e voltou a abrir os olhos.
  - E depois? - perguntou Rafael, que estava agora deitado de barriga para baixo, em frente ao irmão.
  - Para não caír, tenho sempre as mãos nas paredes - continuou. - As paredes estão muito húmidas e até consigo sentir as gotas de água a escorrer na pedra.
  " Continuo a andar devagar, mas parece que já estou a andar há horas e os barulhos continuam longe, por isso começo a ficar assustado. Paro e tento acalmar-me. De repente os barulhos param, como se soubessem que eu estou ali. Não oiço nada para além da minha respiração, por isso sustenho-a.
  Pousou a mão no peito, para não quebrar o pensamento, tentando reproduzir as sensações do pesadelo.
  - Depois a respiração volta, mas não é a minha - continuou. - Fico cada vez mais assustado e...
  - Shh! - interrompeu Gabriel.
  - O que foi?
  - Shhh! - insistiu.
  E calaram-se os três, imóveis, em cima da cama.
  Ao fundo, muito ao fundo, ouvia-se um barulho pesado e profundo. Um "baque" de pedra contra pedra, distante na mansão."

Está lançado um novo excerto, e a parte excitante começa agora! Espero que gostem, comentem e todas essas coisas boas que servem para me apoiar! :)

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